terça-feira, 5 de setembro de 2017

O legado de Janot

5 de setembro de 2017 § 8 Comentários
A Odebrecht roubava pela via tradicional do superfaturamento de obra pública. Já a JBS assaltava direto o Tesouro Nacional, via BNDES. Não precisava de gazua. Era uma “marca fantasia” dos guardiões das chaves. Simplesmente entrava e servia-se.
Se a delação da Odebrecht e seus 77 ladrões fez sumir de cena a “narrativa” do costume e varejou de rombos o casco do lulismo com os seus modestos 415 políticos “ajudados”, é de se imaginar o estrago que poderiam fazer as dos 2ésleys até a eleição que decidirá se a democracia no Brasil vai ou não tornar-se “excessiva” como a da Venezuela se tivessem tido, de Brasília, os mesmos “incentivos” para contar tudo que Curitiba deu àquele pé-de-chinelo do Marcelo Odebrecht.
Não pelos 1820 desencaixes que confessam ter feito para 4,3 xs mais políticos que a Odebrecht para animar brigas de gangues. Pela saga épica, mesmo, da nata do banditismo petista infiltrada no comando dos fundos de pensão e dos bancos públicos alistando a escória planetária do crime organizado em estados nacionais – Venezuela, Cuba, a Argentina kirshnerista, Angola, Guiné Bissau, e por aí – para montar, a partir de um modesto açougue de Anápolis, sob a batuta de um Foro de São Paulo voando nas asas do estado brasileiro, uma lavanderia global de dinheiro roubado abarcando 30 países. Como foi, bilhão por bilhão, que o PT fez da Petros, entregue à “gestão” de um fundador da CUT, sócia dos carniceiros de Goiás. O que mais, além do casal Santana, exportou de tecnologia cleptológica proprietária para párias da civilização e aprendizes de genocida para comprar o conforto de superfaturar em dolar longe dos controles brasileiros e, ora com, ora sem o concurso da Previ, do Funcef, do Postalis, do Itamaraty e sabe-se lá do que mais, ir comprando a “competência” com que os 2ésleys esmagaram um a um os seus concorrentes nacionais e internacionais até toda a jogada ser “branqueada” pelo BNDES e os maiores laranjas do PT em todos os tempos ficarem sozinhos na arena global com mais de R$ 180 bi no caixa por ano. E tudo para, como foi minuciosamente mapeado na sentença do Mensalão e eles repetem de viva voz todos os dias desde então, ressuscitar dos mortos, agora marrom, o totalitarismo que foi vermelho no século 20.

O resultado prático da cruzada de Rodrigo Janot e Luis Edson Fachin, aquele que subiu ao STF pelos palanques dos comícios do MST para Dilma em que discursava cheio de paixão e acaba de avalizar a “isenção” do companheiro, foi privar o mundo de conhecer essa odisséia, o que, incidentalmente, livra Lula das manchetes todas que ela poderia render até outubro de 2018. Quinze anos de Lula por 15 minutos de Temer e lá se vão, em velocidade recorde, os 2ésleys, com seus iates, aviões, bagagens e arquivos, para o mundo dos muito muito ricos, liquidando a toque de caixa suas operações na terra arrasada da América Latina enquanto o Brasil, à beira do colapso, discute firulas à espera do momento de decidir, a seis ou sete semanas do dia da eleição, se arranca Lula do palanque para a cadeia em pleno comício ou carrega-o para a Presidência da Republica.
No fim de agosto, com o acinte que só a onipotência comporta, a plena e eternamente indultada JBS, na qual até o STF soberanamente proibiu-se de tocar, mandou informar a quem interessar possa que, sendo assim, fica recusada a auditoria forense requisitada pelo BNDES para medir os prejuizos incorridos e mantido Wesley na presidência para comandar, ele próprio, uma “investigação independente” sobre o paradeiro do dinheiro que os Batista são acusados de nos roubar…
Tudo isso pede uma reflexão serena sobre os custos e benefícios dessa nossa exaustiva ciranda. Ministério Público, Judiciário e imprensa dificilmente erram por aquilo que fazem. Acusar ou prender alguem que não tem culpa nenhuma; mentir frontalmente contra fatos é expor-se a ser desmascarado na sequência. Mas omissão é o assassinato sem cadáver. Não acusar quem esteja atolado em culpas; não expor a falcatrua de que se tem conhecimento; suprimir ou supervalorizar a circunstância que qualifica o fato, não produz flagrante nem prova.
Mas como mata!
O instrumento da delação premiada foi importado dos EUA pela metade. Não ha dúvida, nem sobre a eficácia da ferramenta, nem sobre a perigosa discricionariedade que o seu uso requer. Mas lá o eleitor tem o poder de cassar ou eleger juizes e promotores o que faz a discricionariedade pender sempre para o lado certo. No Brasil, promotores e juizes habitam o Olimpo, e para sempre. E tudo que põem para andar “fecha” necessariamente no máximo em 11. Reclamações, daí em diante, só para o bispo.
Isto de bom ou mau negócio depende sempre da parte na transação de onde vem a avaliação mas, se algo ficou indiscutivelmente demonstrado nestes quase quatro anos é que as delações, agora em edições sucessivas ajustadas “on demand”, vão pondo os marajás com seus “reajustes” leoninos para corrigir inflações que não ha cada vez mais ricos, o Brasil cada vez mais pobre, a reforma dessa mamata cada vez mais longe, os impostos cada vez mais altos e as instituições democráticas cada vez mais em frangalhos.
O Congresso é a ponta televisionavel do longo mergulho do Brasil na permissividade. Mas também os juízes e promotores regiamente “auxiliados”, os donos de jornais e televisões e os cidadãos em geral participaram dele por ação ou por omissão. A alternativa possivel para as decisões sem volta dos 11 é construirmos pela e com a política que ainda podemos eleger ou não a cada quatro anos uma saída para a frente. Um novo contrato que ofereça a quem quiser aderir ao Brasil a oportunidade de comprometer-se com uma nova regra do jogo a ser “apitada”, daqui por diante, diretamente pelos eleitores seria um caminho com garantia de execução. Mas abandonados à vingança da vingança da vingança como vamos, seguiremos nos entredevorando, dentada por dentada, ao sabor de um jogo que, definitivamente, não é o nosso.