quinta-feira, 12 de junho de 2014

CHARGE DO SPONHOLZ


João e Kim


postado em Artigos | Istoé

12/2013
Por Ricardo Amorim

João e Kim nasceram em 21 de junho de 1970, dia em que o Brasil ganhou a Copa do México. Os pais de Kim eram professores; os de João também. Kim sempre estudou em escola pública; João também. Kim ama futebol; João adora. Kim é da classe média de seu país; João também. Os pais de Kim já se aposentaram; os de João também. Kim e João trabalham na mesma empresa, uma multinacional líder mundial em tecnologia. Kim é engenheiro e ganha R$ 7.100,00 por mês. João não chegou a terminar o ensino médio, ganha R$ 1.900,00 por mês. Kim trabalha na sede da multinacional e é chefe do chefe de João, que trabalha aqui no Brasil.

Onde os caminhos de Kim e João se separaram? A cegonha deixou Kim na Coréia do Sul, João no Brasil. Em 1960, a renda per capita na Coréia era metade da brasileira. Em 1970, eram parecidas. Hoje, na Coréia, ela é três vezes maior do que a nossa.

Como as vidas de centenas de milhões de Kims e Joãos tomaram destinos tão diferentes em poucas décadas? Educação, educação e educação.

O país dos Kims investiu no ensino público básico, de qualidade e acessível a todos. O governo coreano gasta quase seis vezes mais do que o brasileiro por aluno do ensino médio. Na Coréia, um professor de ensino médio ganha o dobro da renda média local; no Brasil, menos do que a renda média. Com isso, os Kims estão sempre entre os primeiros lugares nos exames internacionais de estudantes de ensino fundamental e médio – muitas vezes, em primeiro lugar. Os Joãos, melhor nem falar.

Só após garantir uma boa formação básica e bom ensino técnico, os coreanos investiram em ensino universitário. Ainda assim, a Coréia tem 3 universidades entre as 70 melhores do mundo. O Brasil não tem nenhuma entre as 150 primeiras. Hoje, a Coréia do Sul é, em todo o mundo, o país com maior percentual de jovens que chega à universidade – mais de 70%, contra 13% no Brasil. De quebra, o país dos Kims forma 8 vezes mais engenheiros do que nós em relação ao tamanho da população de cada um. Tudo isso com um detalhe: a Coréia gasta menos com cada universitário do que o Brasil, mas forma 4 vezes mais PhDs per capita do que nós.

Para cada won gasto com a aposentadoria do pai de Kim, o governo coreano gasta 1,2 won com a escola do seu filho. No Brasil, para cada real gasto pelo governo com a aposentadoria do pai de João, ele gasta apenas R$ 0,10 com a escola do Joãozinho.

No ano que vem, os pais de Kim virão para a Copa do Mundo no Brasil. A mãe de João já tinha falecido, mas seu pai quis muito ir à Copa da Coréia e do Japão em 2002, mas não tinha dinheiro para isso. Há um ano, ele está fazendo uma poupancinha e ainda está esperançoso em ser sorteado para um dos ingressos com desconto para idosos para ver um jogo da Copa de 2014, nem que seja Coréia do Sul x Argélia. Como os ingressos com descontos são poucos e concorridos, as chances de Seu João são baixas. Se conseguir, quem sabe ele não se senta ao lado do Sr. e Sra. Kim. Pena que Seu João não teve a chance de estudar inglês. Eles poderiam conversar sobre os filhos…

Economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria.

Tânia Mara - Só Vejo Você (Clipe Oficial)

CHARGE DO SANTIAGO


O medo da trinca informa: Lula, Dilma e Ricardo Teixeira já perderam a Copa



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Lula verá os jogos da Copa enfurnado em casa. Não dará as caras sequer no Itaquerão, que não existiria sem a intervenção do mais influente torcedor do Corinthians: foi o camelô de empreiteira quem agenciou a entrada no negócio da Construtora Odebrecht e induziu o BNDES a bancar a obra bilionária. Passou anos sonhando com as ovações que ouviria ao irromper nas arenas das 12 subsedes. O medo da vaia o obrigou a descobrir que nada combina mais com futebol que transmissão pela TV e cerveja da geladeira na cozinha.
Ricardo Teixeira verá os jogos da Copa enfurnado em Miami. Andou circulando pelo Rio na semiclandestinidade, mas nem esperou o apito inicial para refugiar-se de novo no suntuoso esconderijo na Flórida. “Ele não quer se expor a manifestações de hostilidade”, confessou  um amigo do ex-supercartola que sonhava com o trono da Fifa antes de entrar na lista dos prováveis convocados para a seleção da Interpol.
Dilma Rousseff imaginou que a Copa de 2014 seria a penúltima e mais gloriosa etapa da campanha para um segundo mandato tão inevitável quanto a mudança das estações. No momento, tenta criar coragem para participar da cerimônia de abertura. Mas já avisou que nada no mundo fará com que se arrisque a abrir a boca diante da multidão. Medo de vaia nunca fez bem a cordas vocais.
“Milhões de brasileiros têm sido tratados como se fossem todos patriotas de galinheiro ou otários profissionais”, constatou um trecho do post reproduzido na seção Vale Reprise. Se lhes restasse algum juízo, os embusteiros teriam levado em conta a advertência resumida no título: “A farra bilionária dos vigaristas que forjaram o conto da Copa vai acabar acordando a multidão de lesados”.
Deu no que deu. Ninguém sabe se a Seleção vai ou não ganhar o hexa. O que o pavor da trinca já deixou claro é que Lula, Ricardo Teixeira e Dilma perderam a Copa que nem começou.

LEI DA COPA: UMA AFRONTA AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO


Via Congresso em Foco -

“O governo está permitindo que a Fifa mande e desmande, desrespeitando e humilhando o povo brasileiro, e a Lei Geral da Copa está no centro de todo esse processo”, diz advogado, que também acusa o Ministério Público de omissão.

A Lei Geral da Copa é uma afronta ao povo brasileiro. O Judiciário brasileiro deveria ter exigido respeito às regras e leis já existentes, assim como à Constituição Federal, que garantem ao povo brasileiro direitos, deveres e soberania. Gostamos de futebol e o país poderia realmente ter realizado esta Copa. Contudo, não precisava alterar temporariamente nosso ordenamento jurídico como uma republiqueta de bananas de Terceiro Mundo para que a Fifa aqui realizasse os jogos. Não se demonstrou seriedade política alguma; se as leis podem ser silenciadas, suspensas ou alteradas para atender a uma instituição futebolística, como considerar este um país sério e seu ordenamento jurídico eficaz?

Criamos uma coletânea de leis de exceção, editadas em todos os níveis federativos do país, visando à execução do evento de forma a garantir o lucro da Fifa, de seus patrocinadores e de seus parceiros nacionais e internacionais, ampliando o canal de repasse de verbas públicas a particulares, flexibilizando normas legais e cerceando o espaço público brasileiro.

A Lei Geral da Copa é uma afronta ao ordenamento jurídico nacional porque, longe de proteger o interesse público, tem por base contratos e compromissos particulares, ou seja, interesses privados que vêm suspendendo leis vigentes no país durante o evento para que seus organizadores obtenham lucros além do que permite as legislação consolidada do Brasil. Além disso, a nova regra fere a Constituição Federal ao comprometer o direito de ir e vir dos brasileiros que residem nas proximidades dos estádios e serão obrigados a possuir credenciais para chegarem as suas casas.

Segundo a Constituição Federal, quanto ao direito de ir e vir, “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. A mesma Lei Geral da Copa avança sobre “leis de segurança”, “leis de isenção fiscal”, “leis de restrição territorial”, “lei penal”, “artigos sobre liberações de visto”, estabelecendo procedimentos judiciais, criminalizando atos e estabelecendo urgência para julgá-los, com validade de vigência e eficácia, mediante representação da Fifa, um verdadeiro absurdo, conforme transcrito a seguir: 

“Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014.” 

Além disso, o artigo 13-A do Estatuto do Torcedor, que proíbe “em todo o território nacional o porte de bebidas alcoólicas em eventos esportivos”, foi suspenso até o final da Copa para que o patrocinador possa vender bebidas nos jogos. Isso é uma afronta ao Estatuto do Torcedor e à soberania nacional.

O governo está permitindo que a Fifa mande e desmande, desrespeitando e humilhando o povo brasileiro. A Lei Geral da Copa está no centro de todo esse processo e consolidará uma Copa do Mundo excludente e com graves prejuízos ao povo brasileiro. Veja-se, inclusive, que o artigo 19 determina que sejam concedidos, sem qualquer restrição, nacionalidade, raça ou credo, vistos de entrada no Brasil. Portanto, a Fifa impõe obrigações ao Brasil afrontando a legislação relativa às fronteiras e à concessão de visto. É mais um absurdo legal, colocando a União em posição de submissão à Fifa, impondo-lhe, inclusive, a responsabilidade por quaisquer danos e prejuízos em um evento privado (artigos 22, 23 e 24).

Outro descalabro restringe a liberdade de expressão e a criatividade brasileira, pois nada que envolva a Copa pode ser feito sem a autorização da Fifa. Qualquer um que utilizar os símbolos da Copa, até a imprensa, pode ser processado. Trata-se de uma afronta transformar o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em uma espécie de “bolsa de negócios privado”, abrindo caminho para abusos nas reservas de patente.

O Brasil tem que ter muito cuidado com essa lei porque, embora supostamente transitória, poderá incorporar-se definitivamente em nosso Direito, já que o atual governo não enfrenta a Fifa e pode aproveitar-se deste momento de mudança e de flexibilização das leis para perpetuá-las e perpetuar-se no poder. São leis casuísticas e perigosas. Será que nas Olimpíadas haverá novas alterações nas leis?
Exigimos respeito à Constituição Federal e às regras e às leis já existentes, que garantem ao povo brasileiro direitos e soberania. Onde está o Ministério Público, cuja função precípua é fiscalizar as leis e proteger a Constituição, que não se opõe a esse absurdo? 

* Texto de João Clair Silveira, advogado no Rio Grande do Sul.

ERA ‘BRINCADEIRA’, DIZ LULA SOBRE CRÍTICAS À POLÍTICA ECONÔMICA DE DILMA



Ricardo Galhardo
O Estado de S. Paulo
São Paulo – Cinco dias depois de ter reclamado da escassez de créditocausada pela política econômica do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou suas diferenças em relação à sucessora. Em rápida entrevista na noite de terça-feira, em São Paulo, Lula disse que estava apenas brincando quando alfinetou o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, durante palestra em Porto Alegre, na sexta-feira, e fez questão de não deixar dúvidas quanto à sua sintonia com Dilma.
“Não tem divergência, não. Eu sou do governo”, disse Lula, depois de participar do Fórum Empresarial América Latina e Caribe no Auditório do Ibirapuera.
Na última sexta, 6, em evento promovido pelo jornal El País, Lula disse que “se depender do pensamento do Arno você não faz nada”, comparou o secretário do Tesouro a um tesoureiro de sindicato e cobrou publicamente Arno Augustin a explicar qual o motivo de controlar o crédito se não existe inflação de demanda no país.
Nesta terça, Lula disse que as referências ao secretário do Tesouro foram brincadeiras mal interpretadas pela imprensa.
“Eu fiz uma brincadeira e a imprensa transformou numa coisa séria como se fosse uma divergência profunda. Eu brinquei com ele (Augustin) dizendo que dá para liberar um pouquinho de crédito. Ele não ficou bravo, só vocês (jornalistas) é que acharam que foi divergência”, disse o ex-presidente.

A EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS E O BNDES


Mauro Santayana
(Jornal do Brasil)
O Valor Econômico informa que as empreiteiras brasileiras correm o risco de perder mercado para concorrentes internacionais, principalmente da Europa e da China se não puderem mais contar com financiamento do Estado brasileiro. Há crescente preocupação em explicar que cada centavo tomado pelo BNDES para construção de obras como o Porto de Mariel em Cuba foi gasto na contratação de serviços e compra de equipamentos no Brasil, e que as obras no local da obra são financiadas pelo próprio governo-cliente.
E em esclarecer que, a cada vez que se perde um contrato desse tipo, deixam de ser criados no Brasil milhares de empregos. Neste momento as empreiteiras brasileiras, estariam ocupando o segundo lugar no atendimento ao mercado latino-americano de grandes obras de infra-estrutura, quase sendo alcançadas pelas chinesas. O primeiro lugar é da Espanha.
As construtoras espanholas avançaram na América Latina, porque podiam oferecer crédito barato, o que não é o caso agora, quando seu país, devido à crise, tem uma dívida interna líquida de quase cem por cento do PIB e cerca de 20 bilhões de dólares em reservas internacionais.
CREDIBILIDADE
Além disso, a credibilidade espanhola – e européia de modo geral – também saiu arranhada de episódios como o conflito em torno das obras de ampliação do canal do canal do Panamá. No ano passado, e até o início deste ano, o consórcio escolhido para a realização da obra, composto pela construtora espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana Impregilo, a belga Jan de Nud e a local Constructora Urbana S.A, do Panamá, ameaçou, por diversas vezes, paralisar as obras, no valor de quase 6 bilhões de dólares, exigindo, por diversas vezes, o pagamento de aditivos  não previstos no contrato, alegando “sobre-preços” não previstos, fazendo com que o governo panamenho ameaçasse levar o caso aos tribunais internacionais.
Com 378 bilhões de dólares em reservas e um dos maiores bancos de fomento do mundo, o Brasil precisa e deve continuar financiando, em condições cada vez mais favoráveis, as obras de nossas construtoras no continente latino-americano, sob pena de perder mercado para concorrentes que fazem o mesmo, de outras regiões do mundo.
Com os chineses, no entanto, em vez de briga, se poderia pensar em estabelecer uma aliança. Pequim conta com recursos muito maiores que os nossos, e as empreiteiras chinesas conquistaram – como se pode ver na China – enorme competência na execução de obras de engenharia pesada e civil de excelência, nos últimos anos. Isso pode ser visto, por exemplo, nos seus 10 mil quilômetros de malha de trens de alta velocidade, a maior do mundo, e nos enormes arranha-céus de suas metrópoles.
PARCERIA ESTRATÉGICA
Com os chineses, aproveitando-nos de nossa condição de sócios nos BRICS, e no futuro banco de fomento do BRICS, que deverá ser lançado na cúpula do grupo prevista para julho em Fortaleza, o Brasil teria tudo para estabelecer nessa área uma  estratégica e fecunda parceria.
Nesse acordo, negociado em nível de governo, nossas empreiteiras poderiam se associar às chinesas na construção de obras na América Latina, com os bancos estatais dos dois países dividindo o financiamento e a indústria brasileira e a chinesa, as encomendas e oportunidades.
Esta semana a maior empresa de construção de máquinas para construção pesada do mundo, a XCMG, vai inaugurar, na cidade mineira de Pouso Alegre, a sua primeira fábrica fora da China. Com investimentos de aproximadamente 1 bilhão de reais, a indústria deverá produzir 1.500 guindastes pesados e máquinas de terraplenagem no primeiro ano, e 10 mil unidades a partir de 2015, com faturamento de 500 milhões de dólares por ano .
O financiamento do BNDES para a exportação desses equipamentos fabricados no Brasil, considerando-se o nível de conteúdo nacional atingido, e seu uso em grandes obras de infra-estrutura disputadas conjuntamente por consórcios sino-brasileiros na América Latina, poderia ser um dos pontos oferecidos aos chineses para estabelecimento dessa parceria estratégica.

E agora, o que acontece na Ucrânia?



A situação na Ucrânia é tão complicada que a maioria dos países preferiu não se pronunciar sobre o assunto nos últimos meses, caso raro nas relações internacionais, principalmente quando estamos falando sobre a soberania e o território de uma nação. As tensões foram tamanhas que canais de notícias do mundo todo acamparam em Kiev esperando o inicio de uma guerra.
A Ucrânia é o principal caminho para o transporte de gás para a União Europeia. Esse gás vem da Rússia e é vendido em sua maior parte para a Alemanha. Durante anos a Ucrânia foi parte da URSS, bloco socialista da Guerra Fria – e portanto tem uma série de identidades em comum com a Rússia. Poucas pessoas sabem, mas anteriormente a Crimeia já fez parte da Rússia e foi anexada à Ucrânia durante a Guerra Fria. Isso foi usado inclusive como justificativa pelo governo russo para a tomada, dando explicações bem próximas as de Hitler durante suas anexações¹. O  argumento então era de que povo presente ali falava seus idiomas e que “seus corações eram russos”.
Bem, refutar esse ponto é fácil: Brasil e Portugal falam o mesmo idioma, mas nem por isso “nossos corações são portugueses”, não é mesmo? Contudo, em se tratando de casos como o da Ucrânia, é incrível como violações graves tem justificativas frágeis, aceitas de bom tom pela comunidade internacional, principalmente quando um dos envolvidos se trata de um país com cadeira permanente no conselho de segurança da ONU.
A formação da Ucrânia como a conhecemos hoje se deu pela mistura das culturas europeias e russas. Pelo mapa abaixo pode-se perceber que a língua não é exatamente igual em todo território, com localidades falando mais de 75% do idioma russo. Isso se dá, principalmente, pelo passado imigratório e a fusão com a antiga URSS. Também pela Europa ter um histórico de criação de países menores, com culturas difusas por questão de segurança, colocando esses países como barreiras entre duas grandes nações e assim evitando um conflito maior. A Ucrânia tem características próximas as de um país estabilizador (a denominação internacional é país tampão). Essa formação pode gerar conflitos internos, já que numa mesmo nação se concentram etnias e famílias que por gerações tentam dominar algumas partes do território.
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Aqui se faz necessária uma explicação rápida sobre as manifestações que resultaram na retirada do antigo presidente Viktor Yanukovich e o início das tensões com a Rússia. Os ucranianos se levantaram contra o governo assim que ele anunciou uma aproximação econômica com o Kremlin e o consequente afastamento da União Europeia. Temendo uma nova era de exploração similar a dos períodos soviéticos o povo foi às ruas, pegou em pedras, arma, guerrilhou como pode para acabar com essa possibilidade. Muito sangue foi derramado.
Como poderia portanto um povo que há poucos meses lutava por um distanciamento da Rússia permitir uma anexação territorial e uma quebra de sua soberania?
Logo após a queda, uma série de grupos paramilitares surgiu na Crimeia, muito bem armados (até demais para os padrões internacionais de guerrilhas similares), controlando aeroportos e uma série de outros locais de elevada relevância. A população local fez um referendo durante o período e se separou da Ucrânia. Vários boatos de fraude se formaram, anunciando que as urnas haviam sido adulteradas², mas já era tarde: o exército Russo, estacionado na fronteira, já estava dentro do território. Pouco tempo depois Putin assinava os termos de anexação.
Há um conceito denominado Interdependência Complexa, formulada por Keohane e Nye, que afirma que todos os países possuem uma dependência mútua de maior ou menor grau. Assim observamos, por exemplo, que o mundo tem uma grande dependência com os EUA e a China, enquanto o oposto não é verdadeiro.
Mesmo não parecendo diretamente relacionada com a Crimeia ou a Ucrânia, a assinatura de um acordo entre China e Rússia garantindo o fornecimento de gás russo aos chineses coloca o conceito anterior em prática. O acordo diminuiu o grau de dependência da Rússia com a Alemanha. Assim, no caso de um bloqueio completo por parte da União Europeia, os efeitos não seriam tão severos para a Rússia, além de favorecer um oligopólio das empresas de exploração de gás, todas com um relacionamento muito próximo ao governo.
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A estratégia mais eficaz dos russos não foi obrigar a população da Crimeia a aceitar a anexação como Hitler havia feito. Eles começaram a mandar uma infinidade de verbas para a Crimeia, passando assim uma imagem de que a anexação fora algo esplêndida para os cidadãos e disparando uma onda de revoltas separatistas em todo território ucraniano.
Nas Relações Internacionais há uma diferenciação entre “Soft e Hard power”: o primeiro é a influência externa feita de maneira branda e regular por muitos países, nessa categoria entram desde auxílios econômicos, até mesmo filmes e outros instrumentos culturais. E o segundo é o uso de Políticas mais bruscas como bloqueios econômicos, guerras e intervenções. Durante essa crise internacional foi possível ver ambas as atitudes, não somente pela Rússia, mas por alguns países como Estados Unidos e o conjunto de nações da União Europeia. Cada um de sua maneira tenta persuadir a Rússia a desistir de seus planos de anexação. Infelizmente, as sanções são brandas e dificilmente terão algum efeito quanto à decisão de anexação, gerando assim um impacto mínimo.
No caso americano a principal atitude tomada foi um bloqueio a determinadas pessoas e empresas de efetuarem transações entre a Rússia e os EUA. Além do impedimento de alguns cidadãos russos de entrarem no território americano. Em suma, a atitude tomada pelos EUA pune os empresários e os civis, que sofrem com um bloqueio monetário e um decréscimo no mercado financeiro, mas acaba de certa forma tocando apenas aqueles que realmente deveriam ser punidos. Já é da tradição russa fazer de seus civis o escudo utilizado contra os tiros destinados aos seus políticos³.
A União Europeia já tem um desafio muito maior: sanções contra a Rússia não apenas prejudicariam os russos, como acabariam com os europeus também. Como havia colocado anteriormente, países como a Alemanha (hoje, principal economia do bloco) necessitam do gás natural russo. Um bloqueio do gás certamente prejudicaria a Rússia, mas seria catastrófico para a União Europeia.
A Rússia vem tendo uma postura nacionalista na última década. Muitas das atitudes tomadas na última administração tiveram como objetivo um ganho de prestígio. Algumas atitudes foram extremamente válidas, como por exemplo o caso da retirada das armas químicas da Síria, que evitou uma carnificina na quase intervenção americana. Outras políticas, como o caso de uma maior aproximação com a Coreia do Norte, a repressão a protestos internos e a intervenção estatal no mercado, vem trazendo preocupações quanto ao futuro do país.
Para tentar conter o escalonamento das anexações e auxiliar num processo de paz, a União Europeia está fechando um acordo comercial com a Ucrânia. Esse tipo de acordo facilita o fluxo de capitais, normalmente dando um impulso econômico ao país. Todavia, a Ucrânia não está em um processo de entrada para a União Europeia, como alguns jornais brasileiros comentam erroneamente – o próprio site do bloco não traz a Ucrânia como país possível de entrar. Por mais que fosse da vontade dos próprios ucranianos.
Portanto, o que ocorre atualmente na região é uma intervenção na busca por liberdade, utilizando o vácuo de poder gerado pela retirada do governo pró-Rússia, para desprover os cidadãos de sua livre determinação, com a posterior compra da opinião pública por meio de projetos sociais advindos dos contribuintes russos. Essa técnica era muito comum no antigo bloco soviético, mas como Margaret Thatcher já havia assinalado certa vez, políticas como estas duram somente até que o dinheiro dos outros acabe. A carga fica toda por conta dos contribuintes e empresários russos, que estão pagando a conta das atitudes autoritárias de seu governo que, pelo visto, continuará levando adiante, usando a força e o dinheiro público, suas ambições imperialistas.
¹ Hitler antes do começo da Segunda Guerra anexou a Austria e a Tchecoslováquia. Esta ação foi justificada por Hitler pelo fato de possuírem uma língua e tradições em comum com a Alemanha. Estas anexações culminaram na declaração pela França e pelo Reino Unido de um pacto pela proteção da Polônia, este desrespeitado pela Alemanha nazista e que gerou a Segunda Guerra Mundial.!
² O resultado do plebiscito foi de 95,5% a favor da separação. Isto chamou a atenção ao redor do mundo, já que um índice tão alto logo após uma revolução que ia contra essa ideia era quase impossível. Esse link tem uma passagem mostrando a insatisfação dos lideres ao redor do globo em relação a veracidade do resultado. 
³ Durante todo o período da Guerra Fria a Rússia sofreu diversos bloqueios econômicos dos EUA e seus Aliados. Estes visavam prejudicar os comandantes e generais russos. Contudo como em diversos regimes totalitários, as reclamações, privações e mortes dos civis não tinham importância para os comandantes. Os lideres viviam na bonança, construindo sua ilusão ideológica sem sofrer privações. Para mais informações sobre a realidade da URSS durante os tempos de Guerra Fria leiam o texto A fonte da conduta soviética de autoria de George Kennan