domingo, 12 de maio de 2013

SUCESSOS DA HERANÇA DESDENHADA



            Percival Puggina


            Mas não é que o brasileiro, embaixador Roberto Azevêdo, foi eleito para dirigir a Organização Mundial do Comércio (OMC)? Que tal? É nós na fita, como se poderia dizer, apropriando o título do espetáculo encenado por Marcius Melhem e Leandro Assun. Como foi acontecer uma coisa dessas?

            Pois é. Um pouco mais do mesmo. Os outros plantam, o PT atrapalha quanto pode e, depois, colhe. Durante anos ouvi os petistas dizerem que abertura ao comércio internacional era coisa maldita, neoliberal, invencionice da nefasta globalização. A bem da verdade, essa ideia, de um viés nacionalista equivocado, que transformou o Brasil numa das economias mais fechadas do mundo, era anterior ao PT. Mas ganhou militância com o petismo.

            Nas últimas décadas do século passado, o Brasil convivia com inúmeras maldições, entre elas estas três: atraso tecnológico, precaríssimo acesso a muitos bens de consumo e preços escorchantes por mercadorias do Primeiro Mundo. Ah, o Primeiro Mundo! O Primeiro Mundo promovia integrações e mercados comuns. Fazia tudo errado ... e ia muito bem. Bem demais, aliás, a ponto de esquecer a primeiríssima das lições, aquela que todas as donas de casa sabem: quem gasta mais do ganha se endivida e, um dia, a conta chega. Mas essa é outra história.

            Nós, brasileiros, nos habituamos a ouvir discursos em defesa dos protecionismos a setores tecnologicamente atrasados, avessos à abertura a importações, contra privatizações, contra o pagamento da dívida externa - chave mestra para todas as dificuldades do país. Moratória já! Ianques go home! Abaixo o receituário do FMI! O Brasil, não precisaria tanto para se tornar carta fora do baralho nas relações internacionais.

            Deus talvez não seja brasileiro. Se for, não é lá muito bairrista. Mas, felizmente, nos propiciou reação a essa didática do atraso. E o Brasil, aos poucos, foi rompendo com aquele nacionalismo fajuto, irresponsável e caloteiro. À medida que isso acontecia, revertia-se o quadro e o país granjeava credibilidade e respeito no mercado internacional. Desde o final do século 20, tornamo-nos um país que paga contas, cumpre contratos e se integra comercialmente. Sob vaias, é verdade. Quanto mais o Brasil dava certo nas relações externas, mais essa política econômica era combatida, escarrada e pisoteada. A metralhadora giratória do PT e seus consectários tinha nela seu alvo preferido.

            Loucura ideológica não rasga dinheiro. Quando o PT chegou ao poder, sem pedir desculpas a ninguém pelas bobagens que antes defendia e pelos impropérios que proferia, tratou de preservar o que estava dando certo. Descobriu, por exemplo, que o agronegócio paga as contas da balança comercial. Mas era tudo herança antes desdenhada. Por mais que o petismo delirante pretenda atribuir esses êxitos às suas próprias investidas em novos mercados africanos, o certo é que estes representam apenas 4% dos negócios do Brasil e não têm como passar disso em médio prazo. São economias muito pequenas.

            Portanto, a eleição de um diplomata brasileiro para presidir a OMC é expressão de um sucesso que avançou à conta dos empreendedores brasileiros e de políticas às quais o PT se opunha com humores e furores vulcânicos.

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Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

QUEM SE ACOSTUMA A TIRAR NOTA 6 NUNCA VIRA LÍDER



Conheci um dirigente que dizia sempre, ao longo da vida, não precisa tirar 10, se ficar com 6 passa de ano, e a gente vai mais longe. Eu observava esse executivo. Ele tinha uma vida normal, era feliz, sempre calmo. Poderia até dizer que sua qualidade de vida era superior ao time que se esforçava e lutava pra alcançar os 9 e os 10 da performance empresarial. Mas, depois das reuniões de objetivos, dos planos, dos entusiasmos das convenções de vendas, nos bastidores, ele vinha paciente e calmo , e sussurrava no meu ouvido: “não esquenta Tejon, o importante é tirar 6, ligeiramente acima da mediana, o resto é para transtornados”.
Com essa conversa ele criava uma real dúvida na minha cabeça, afinal, ótimo ser humano, pessoa correta, simpática, amiga. Mas, como o Deus “Cronos”, o Senhor do tempo cobra inexoravelmente a sua conta. Com o passar dos anos o tempo usado no estacionamento da vida foi apresentado na forma inapelável da realidade: fui assistindo esse dirigente ficar pra trás, ser demovido, ser colocado “por pena”, das estruturas dos demais dirigentes, em função de pouca importância. O pessoal dizia, ele é ótima pessoa, mas que problema, só faz o mais ou menos, nunca apresenta performances elevadas. E, com a chegada de novas gerações, já o “zum zum zum” corria de que ele seria demitido.
Então, num completo desespero, esse amigo de jornada me chamou e disse que não entendia o que estava ocorrendo, ninguém queria mais trabalhar com ele, seu estado de humor estava alterado, ficava irritado, perdia a calma, discutia veementemente. Esse dirigente da nota 6 vivia agora como “cão sem faro”. Tinha perdido o rumo. Já aos 50 anos, o que acontecia é que suas repetidas notas 6 ao longo do boletim da vida, serviram para trazê-lo até aqui; mas infelizmente não o categorizavam para assumir postos elevados na diretoria, e muito menos para transformá-lo num empreendedor.
A moral da história? Nada contra as notas 6 da vida, mas muito cuidado, podem virar um vício, o cérebro se acostuma, e você pode acreditar que viver na mediocridade salva. Pode esconder você dos enfrentamentos da vida por um bom tempo, mas não impedirá o seu faceamento com a realidade das competências em algum estágio do seu ciclo de vida. Não há um caminho para a felicidade e a qualidade. Ao contrário. Qualidade e felicidade são o único caminho.
José Luiz Tejon Megido
Publicitário, jornalista e escritor de 28 livros em autoria e coautoria
Autor do blog Cabeça de Líder, da Revista Exame
Professor de MBA da ESPM e da FGV.