segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Lula fala pela primeira vez sobre Rosemary (rapidamente) e diz também que vai fazer campanha para Dilma.


Carlos Newton
Em curiosa entrevista ao Correio Braziliense, o ex-presidente pela primeira vez falou sobre Rosemary Noronha, sua ex-segunda-primeira-dama, companheira de viagens oficiais a 32 países, na ausência de dona Marisa Letícia, é claro.
Como a entrevista foi feita por uma aliada, a jornalista Tereza Cruvinel, que deixou o Globo em 2010 para trabalhar na governo Lula, o ex-presidente não foi pressionado em nenhum momento e pôde passar rapidamente pelo explosivo assunto que envolve sua vida amorosa. Confira o diálogo:
Tereza Cruvinel - Como o senhor avalia a decisão da CGU de pedir a destituição do serviço público da ex-chefe do Gabinete da Presidência de São Paulo, Rosemary Noronha, por 11 irregularidades, incluindo propina, tráfico de influência e falsificação de documentos? 
Lula - Ela já estava demitida. O que a CGU fez foi confirmar o que todo mundo já sabia o que ia acontecer.
- Mas tudo ocorreu dentro de um escritório da Presidência, em São Paulo… 
- Deixa eu falar uma coisa. A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E pelo o que eu vi do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil. Todo servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado. O que valeu para o escritório vale para qualquer lugar no Brasil, no setor público. Vale para banco, vale para a Receita Federal. Vejo isso com muita tranquilidade. (Lula se vira para o assessor de imprensa e pergunta). “Não foi exonerado esses dias um companheiro que trabalhava com a Ideli (Salvatti)? (Lula se refere ao assessor da Subchefia de Assuntos Federativos, Idaílson Vilas Boas Macedo, após notícias de que faria parte do esquema de lavagem de dinheiro descoberto pela Polícia Federal na Operação Miqueias).
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Neste ponto, a jornalista do Correio Braziliense rapidamente muda de assunto e passa para a espionagem americana. Mas o que interessa mesmo é o que Lula diz sobre a candidatura de Dilma:
Tereza Cruvinel - Sua participação na campanha da Dilma agora será diferente da que teve em 2010? 
Lula - Tem de ser diferente. Em 2010 a Dilma não era conhecida. Fizemos uma campanha para que ela se tornasse conhecida, e para mostrar ao eleitor o grau de confiança que eu tinha nela. Obviamente que depois de quatro anos de governo a Dilma passou a ser muito conhecida e conseguiu construir a sua própria personalidade. Então já tem muita gente que vai votar na Dilma independentemente do Lula pedir. Naquilo que eu tiver influência, nas pessoas que eu tiver influência, eu vou pedir para votar na Dilma. O que eu vou fazer na campanha depende dela. Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela. Eu tenho vontade de falar, a garganta está boa. Eu estou com mais disposição, mais jovem. Apesar da idade, eu estou fisicamente mais preparado. Estou com muita saudade de falar. Faz tempo que eu não pego um microfone na rua para falar. Conversar um pouco com o povo brasileiro. Vou ajudar. Se for importante ficar quieto, eu vou ficar quieto. A única que coisa que eu não vou fazer é cantar, porque eu sou desafinado, mas no resto, ela pode contar comigo. 
ENTREVISTA TIPO VÔLEI
Bem, a entrevista foi do tipo vôlei: cada pergunta era uma levantada para que o entrevistado dê uma cortada e faça o ponto. A repórter, que parece meio distraída, esqueceu a pergunta principal, sobre a questão decisiva: “E se houver risco de perder a eleição e o partido exigir que o Sr. seja o candidato”?
Seria interessante saber o que Lula responderia… E conforme temos registrado aqui na Tribuna, com absoluta exclusividade, Lula e Dilma não se suportam mais. Por isso, Lula está dizendo: “Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste“. É uma briga que não tem mais volta, e com Rosemary no meio.
Quanto à manutenção da candidatura de Dilma, o tempo é o senhor da razão, como dizia o então presidente Collor, antes de dar com os burros n’água.

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)


Militância vira critério para participar do ‘Minha Casa’

em: NOTÍCIAS   |  tags: Minha Casa Minha Vida   |  fonte: Exame

Na fila pela casa própria, sai na frente quem é filiado às associações beneficiadas. Segundo Ministério, programa admite regras adicionais

noticias  : Militância vira critério para participar do Minha Casa
Casas do Minha Casa, Minha Vida em Campinas (SP): mensalidades em dia e presença em protestos contam pontos para quem quer ter um teto – Ricardo Stuckert/Presidência da República
Líderes comunitários filiados ao PT usam critérios políticos para gerir a maior parte dos R$ 238,2 milhões repassados pelo programa Minha Casa Minha Vida a entidades para a construção de casas populares em São Paulo. Onze das 12 entidades que tiveram projetos aprovados pelo Ministério das Cidades são dirigidas por filiados ao partido. Suas associações privilegiam quem participa de atos e manifestações de sem-teto ao distribuir moradias, em vez de priorizar a renda na escolha. Entre gestores dos recursos, há funcionários da gestão de Fernando Haddad (PT), candidatos a cargos públicos pela sigla e até uma militante morta há dois anos.
A partir de repasses diretos, as associações selecionadas pelo governo federal escolhem quem vai sair da fila da habitação em São Paulo. Os critérios não seguem apenas padrões de renda, mas de participação política. Quem marca presença em eventos públicos, como protestos e até ocupações, soma pontos e tem mais chance de receber a casa própria.
Para receber o imóvel, os associados ainda precisam seguir regras adicionais às estabelecidas pelo programa federal, que prevê renda familiar máxima de R$ 1,6 mil, e prioridade a moradores de áreas de risco ou com deficiência física. A primeira exigência das entidades é o pagamento de mensalidade, além de taxa de adesão, que funciona como uma matrícula. Para entrar nos grupos, o passe vale até R$ 50.
Quem paga em dia e frequenta reuniões, assembleias e os eventos agendados pelas entidades soma pontos e sai na frente. Os empreendimentos são projetados e construídos pelas associações, que hoje reúnem uma multidão de associados. São mais de 50 mil pessoas engajadas na luta pelo direito à moradia. Além das entidades dos petistas, há ainda uma outra dirigida por um filiado ao PCdoB.

Ministério
O Ministério das Cidades afirmou desconhecer que a presença em atos públicos, como protestos e ocupações, renda pontos às pessoas que lutam por uma moradia na capital. A pasta informou apenas que as entidades podem criar regras adicionais às estabelecidas pelo Minha Casa Minha Vida, sem a necessidade de aprová-las no governo. Da mesma forma, o ministério disse que não pode interferir em regras internas dos movimentos de moradia e, por isso, não tem como impedir a cobrança de taxas e mensalidades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Exame - Adriana Ferraz e Diego Zanchetta, do noticias  : Militância vira critério para participar do Minha Casa

Siga o cheiro do dinheiro, Coluna Carlos Brickmann

27/09/2013 16:25


Há algo em comum entre os 32 partidos políticos do país. Não, não é o nome Partido: o Solidariedade, de Paulinho, não se chama "partido". E a Rede, de Marina Silva, se vier a ser registrada também não terá este nome. O que têm em comum é que todos podem aliar-se em eleições estaduais, combater-se em eleições federais, ou vice-versa, unir-se em torno de um candidato, opor-se a ele. E ninguém vai estranhar o ziguezague: aqui, acredita-se, partido é assim mesmo.

Se um partido pode tudo, sem qualquer preocupação com programas de Governo ou com alguma ideologia, por que tantos políticos se preocupam em criar outros partidos? Para que formar 32 partidos? Para que servem? Que é que são?

São minas de ouro - com a vantagem de não exigir investimento para extraí-lo. Há montanhas de dinheiro público à disposição de seus dirigentes. O Fundo Partidário distribuiu no ano passado R$ 286,2 milhões. A propaganda política chamada de gratuita custa ao Tesouro perto de R$ 900 milhões em ano eleitoral (só é gratuita para o partido, porque a conta vem para nós). Os dois partidos novos, PROS e Solidariedade, mal se formaram e já levam R$ 30 milhões anuais do Fundo Partidário. No Brasil, partido não é um instrumento para chegar ao poder. No Brasil, partido normalmente é um instrumento para chegar ao dinheiro.

Sigam o caminho do dinheiro, dizia aos repórteres que desvendavam o escândalo Watergate sua principal fonte, apelidado de Garganta Profunda. Quer saber por que surgem tantos partidos? Siga o dinheiro. Há gente com bolsos profundos.

Além da imaginação

Mas é pura ingenuidade acreditar que com este dinheiro os partidos ficam saciados. Há ainda os cargos públicos com nomeações sem concurso, prêmio extra pelo apoio eleitoral; há o aluguel do horário gratuito, nem sempre oferecido gratuitamente pelos partidos menores aos aliados maiores. E há certas transferências da organização para os organizadores que, quando descobertas, se transformam em escândalo. 

Mas como querer que os beneméritos organizadores, que dedicam a vida ao partido e à democracia, paguem suas contas pessoais no fim do mês?

Os insaciáveis

Com tudo isso, ainda há quem queira que as campanhas sejam financiadas por dinheiro público. Como vimos, já são. O que querem é mais dinheiro público.

Voa, dinheiro

Quando ouvir falar que não há dinheiro para melhorar a segurança pública, ou para pagar melhor os policiais, pode acreditar: é verdade. O dinheiro segue outros caminhos. Em São Paulo, esta coluna comprovou, com documentos, que 19 coronéis da Polícia Militar ganham mais que ministros do Supremo Tribunal Federal - cujo salário de R$ 28.059,29, por lei, é o máximo que pode ser pago a qualquer servidor público. O menor salário da lista é de R$ 30.154,00; o maior, de R$ 52.883,66. E o governador? 

Geraldo Alckmin vai bem, obrigado.

É Dilma de novo

Pesquisa Ibope, encomendada pelo jornal O Estado de S.Paulo, mostra que a presidente Dilma Rousseff, PT, subiu oito pontos percentuais em dois meses: alcançou 38% das intenções de voto para as eleições de 2014, mais que todos os candidatos da oposição somados. Marina Silva continua em segundo, mas caiu de 22 para 16%. Aécio, PSDB, caiu um pouco, de 13 para 11% (se o candidato fosse Serra, seriam 12%, e Dilma teria 37, em vez de 38%). Eduardo Campos também caiu um pouco, de 5 para 4%. Há, conforme o cenário, entre 30 e 31% sem candidato. Destes, metade diz que votará branco ou nulo. 

Como explicar a recuperação de Dilma, depois de ter caído de 58% (antes das manifestações) para 30%? Dois parecem ser os motivos principais: primeiro, a economia vai-se sustentando, sem avançar mas também sem recuar; segundo, ninguém sabe quais as propostas da oposição. A oposição é contra o Governo - como, aliás, é sua obrigação. Mas que é que pretende mudar, se vencer? Tirando o avô de Aécio e os olhos verdes de Campos, qual a diferença entre eles e o tucano derrotado em 2006, Geraldo Alckmin, tão insosso que foi apelidado de Picolé de Chuchu? 

Os votos e a economia

Nada entusiasmante; mas os sinais econômicos são levemente favoráveis, abrindo espaço para o favoritismo da candidatura de Dilma. A taxa de desemprego está em 5,3%, a menor do ano; a renda média dos assalariados subiu 1,3% em agosto, comparada a agosto de 2012. A inflação continua contida - artificialmente, sem dúvida, apenas represada, mas por enquanto sem que o bolso do eleitor sofra a ponto de levá-lo a votar numa oposição que pede desculpas por existir. 

É brincadeira

O Governo do Distrito Federal sancionou a lei que proíbe armas de brinquedo em Brasília. Pistola dágua, espada de He-Man, revólver de espoleta, essas coisas perigosas quando empunhadas por bandidos, não mais ameaçarão a segurança da população brasiliense. Mas ainda falta proibir as crianças de apontar o dedo indicador para alguém, gritando "pam! pam!". 

Pois é: sempre se soube disso, mas com o julgamento do Mensalão ficou mais claro que os maiores gatunos que operam na cidade não precisam de armas para assaltar os cidadãos de bem.
 

A omissão do Banco Central diante das denúncias de falcatruas bancárias


O Banco Central, na gestão de Alexandre Tombini, foi omisso diante das denúncias de falcatruas em liquidações bancárias

FELIPE PATURY, COM REPORTAGEM DE MARCELO SPERANDIO E TERESA PEROSA
13/09/2013 21h33 - Atualizado em 16/09/2013 18h39


SEM CIÊNCIA O presidente do BC, Alexandre Tombini. Ele tem controle sobre os subordinados? (Foto: Sergio Lima/Folhapress)
As autoridades costumam reagir a escândalos como se estivessem brincando de batata quente: tentam livrar-se do problema e passá-lo à mão alheia. Foi o que fez o Banco Central quando foram descobertos desvios na intervenção do Banco Cruzeiro do Sul. O caso enxovalhou o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que se orgulhava de ter boa reputação no mercado financeiro. Criado pelos bancos em 1995, para evitar prejuízos a correntistas de instituições quebradas, o FGC adquiriu outras funções com o passar do tempo. Agora, quando um banco balança, ele entra em campo para emprestar dinheiro. Se não é suficiente, trata de arranjar um comprador. Poderes tão amplos lhe conferiram credenciais para assumir a gestão de bancos falidos. A primeira vez em que isso aconteceu foi junho do ano passado, quando o Banco Cruzeiro do Sul entrou em colapso. O BC interveio e nomeou o FGC como administrador. Celso Antunes, então diretor executivo do FGC, cargo equivalente ao presidente, assumiu o comando. Uma vez no Cruzeiro do Sul, Antunes contratou uma microempresa de um antigo sócio seu para prestar serviços multimilionários à massa falida. O negócio, revelado por ÉPOCA em agosto, resultou na demissão de Antunes e de outro diretor do FGC, José Lattaro.
Quando o escândalo estourou, o BC se disse surpreso, afastou os envolvidos e abriu uma investigação. Caso encerrado? Não. Aparecem agora provas de que a cúpula do BC conhecia há pelo menos 17 meses e em detalhes o esquema montado pelos diretores do FGC nas liquidações bancárias. Subordinados diretos do presidente do BC, Alexandre Tombini, os diretores de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei Marques, e de Fiscalização, Anthero Meirelles, foram informados oficialmente e por duas vezes das atividades de Antunes e Lattaro. Uma correspondência da cúpula do FGC enviada à dupla relatou o curso das negociações para contratação da empresa vinculada a Antunes. Outra carta enviada à área de liquidações do BC detalha as gestões de Antunes e Lattaro e aponta a possibilidade de essas operações serem enquadradas na Lei de Crime do Colarinho Branco, como gestão temerária, e de incorrerem em violação de sigilo bancário.
Toda a cadeia de comando da área de liquidações do BC acompanhou as negociações conduzidas por Antunes e Lattaro. Pior: a troca de cartas ocorreu três meses antes de o BC decretar a intervenção no Cruzeiro do Sul e de nomear Antunes como administrador. Se o BC sabia das intenções de Antunes e de seus colegas, por que o nomeou para essa função? Se não enxergou conflito de interesses no fato de Antunes gerir um banco em nome do fundo e de contratar um ex-sócio sem qualificação para fazer um negocião, por que ele foi desligado depois? Se sabia do caso em março de 2012, por que só tomou providências em maio deste ano? Dois diretores do BC esconderam as denúncias de Tombini ou ele as ignorou? “O presidente não tinha conhecimento. O presidente e os diretores têm alçadas diferentes”, afirma o procurador-geral do BC, Isaac Ferreira. 
PARA A GAVETA Os diretores Sidnei Marques (à esq.) e Anthero Meirelles(à dir.). Eles não tomaram providências sobre as denúncias (Foto: Valter Campanato/ABR e Andre Dusek/Estadão Conteúdo)
A liquidação de um pequeno banco carioca, o Morada, pode trazer esclarecimentos tão valiosos quanto os de Ferreira. Se não explica as razões que levaram o BC a fechar os olhos para as intenções dos diretores do FGC, ao menos mostra como isso ocorreu. Dedicado à exploração de crédito consignado, o Morada entrou em crise no início de 2011. Para se manter vivo, recorria a empréstimos do FGC. Em 28 de abril, abriu no vermelho. O BC interveio e nomeou como gestor Sidney Ferreira, que atuara nas crises do Banco Nacional e do Banerj. Cinco meses depois, Sidney passou a ser assediado pelos diretores do FGC. Lattaro levou a Sidney dois empresários interessados em prestar serviços ao Morada. José Marcelo Brandão tinha uma empresa chamada M7 Cobranças Ltda. Carlos Cesarini apresentou-se como proprietário de uma certa Interbank Soluções Tecnologia e Serviços. Por que eles eram ciceroneados pelo FGC? “A M7 foi contratada pelo FGC para prestar serviços de gestão das carteiras (do Morada) logo após a liquidação”, diz o presidente do Conselho de Administração do FGC, Antonio Carlos Bueno. A resposta de Cesarini envolve o BC: “No Banco Morada, a pedido do Banco Central, o FGC faria uma gestão no resto da carteira que tinha lá”.
No primeiro encontro, Brandão e Cesarini sugeriram ao liquidante Sidney que os contratasse para administrar os créditos consignados do Morada. Esse encontro e os subsequentes foram todos registrados por Sidney. Em outubro, os empresários tiveram mais dois encontros com ele. Depois, a conversa de Lattaro, Brandão e Cesarini mudou de rumo. Em vez de prestar serviços ao Morada, eles queriam que o FGC comprasse os ativos do banco e, depois, os contratasse para administrá-los. Uma proposta chegou a ser enviada formalmente a Sidney por e-mail em 19 de outubro de 2011. Uma semana depois, o FGC informou, também por e-mail, ter desistido da compra.
Em meio a idas e vindas, o FGC e os empresários voltaram a falar em prestação de serviços. Sidney recebeu, então, um contrato que ele deveria firmar com o FGC. Em 19 de dezembro, Lattaro, Brandão e Cesarini finalmente explicitaram seus planos: o Morada cederia os ativos ao FGC, que contrataria Brandão para fazer as cobranças e Cesarini para processar dados. Seriam remunerados com 3,5% do valor das prestações pagas mensalmente pelos devedores dos créditos consignados. Seguiu-se uma discussão de valores. Sidney alegou que os 3,5% eram mais do que o lucro que o Morada tinha com as operações. Por isso, o rombo do banco aumentaria, em vez de encolher. O trio reclamou que ele não entendera os termos da operação. Sidney impôs outros obstáculos. Entre eles, exigiu um portfólio da M7 Cobranças e da Interbank, provando que elas tinham experiência nesse tipo de trabalho. 

Como Sidney relutava em assinar o contrato, os diretores do FGC levaram o caso a Brasília. Em 3 de fevereiro, Antunes enviou um e-mail ao chefe do Departamento de Liquidações do BC, Dawilson Sacramento. Nele, pede a Sacramento que “oriente” o liquidante a “permitir o início dos trabalhos (...); liberar o acesso irrestrito às informações; prestar todas as informações necessárias”. Dias depois, Antunes reuniu-se com Sidney para lhe dar um ultimato. Teria uma semana para assinar o contrato. Caso contrário, o FGC desistiria do negócio. A semana se passou, e Sidney nada fez, apesar de cobrado pelo adjunto de Sacramento.

Em vez de assinar o papel, Sidney mandou ao FGC uma carta de seis páginas, em que relata em detalhes suas reuniões com os empresários e representantes do FGC. Elas foram acompanhadas por autoridades do Departamento de Liquidações, enviadas de Brasília, ou pelos chefes dessa área no Rio de Janeiro. A carta de Sidney vai além. Diz que o contrato não encontra respaldo no estatuto do FGC, que Antunes e Lattaro não tinham alçada para assinar esse tipo de documento e que a transferência de dados dos créditos consignados para a M7 Cobranças nos termos exigidos por Antunes e pelo atual diretor executivo do FGC, Fabio Mentone, configuraria quebra de sigilo bancário. Sidney passa, então, a apontar irregularidades graves. Ele relata que a M7 Cobranças é uma microempresa com R$ 1.000 de capital. Funciona na casa do próprio dono, que não tem empregados, telefone nem cartão de visita. Sidney diz que, se a contratasse, incorreria em crime de gestão temerária, descrito na Lei do Colarinho Branco. A situação da Interbank não é melhor. Cesarini, que se apresentava como dono, não aparecia como sócio no registro da empresa na Junta Comercial. Em lugar dele, estavam seu filho e, surpreendentemente, Antunes, do FGC. A empresa que estava registrada em nome de Cesarini era a Interbank Consultoria em Informática, considerada inapta pela Junta Comercial. Esse tipo de punição ocorre quando não há declaração de Imposto de Renda. Com as seis páginas da correspondência, Sidney enviou também um pequeno dossiê embasando suas afirmações.

A carta foi respondida no dia seguinte, 1º de março. A réplica não foi assinada por Antunes, mas pelo chefe dele, Antonio Carlos Bueno. Por que Bueno responde a denúncias feitas contra Antunes? Não está claro. O destinatário também não é Sidney. Em vez dele, aparecem os diretores do BC Sidnei Marques e Anthero Meirelles. Bueno deixa claro que anexou a denúncia de Sidney às três páginas que escreveu à dupla do BC. Por que os dois diretores? “Para deixá-los cientes das dificuldades que vínhamos encontrando, decorrentes da quebra do Morada, e de seus efeitos sobre o sistema financeiro”, diz Bueno, por meio de sua assessoria. No texto, Bueno espinafra Sidney, responde às denúncias, defende Antunes e afirma: “Não mais daremos continuidade junto àquele Banco ao trabalho idealizado”. Trata-se de uma ameaça? “O FGC nunca fez nem faria ameaças a ninguém”, afirma Bueno.
 
DOIS EM UM O presidente do conselho do FGC, Antonio Carlos Bueno (à esq.). Ele defendeu a empresa que pertencia ao ex-diretor Celso Antunes (à dir.) (Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo)
O lance seguinte foi dado por Sidney. Em 6 de março do ano passado, ele enviou uma tréplica à Gerência de Liquidações do Rio de Janeiro. Os diretores do BC Sidnei Marques e Anthero Meirelles são mencionados mais uma vez no texto. Cinco dias depois de enviar esse documento, ele foi demitido. No ato de sua exoneração, assinado pelo diretor Sidnei Marques, consta que foi “dispensado, a pedido”. Questionado, Marques deu outra explicação: “O Departamento de Liquidações me comunicou várias razões para a substituição”, diz. Em e-mail a ÉPOCA, ele as enumera: “Retenção de recursos de terceiros, falta de providências para entrega das carteiras cedidas antes da liquidação, falta de formação do quadro de credores”. Já que não foi a pedido, a demissão de Sidney tem relação com as denúncias que ele fez? O BC afirma que não. E que providências os diretores Marques e Meirelles tomaram a respeito dos alertas? Nada. “Tendo sido comunicado pelo FGC de que aquela entidade não mais conduziria qualquer trabalho de gestão das carteiras de crédito, nada haveria (sic) de providência a ser tomada”, afirma Marques. “Não havia providências a ser tomadas pela Diretoria de Fiscalização”, disse Meirelles.

Outro funcionário aposentado do BC foi designado para a liquidação do Morada, no lugar de Sidney Ferreira. Para assumir o cargo, Osmar Brasil teve de deixar a liquidação de uma administradora de consórcio carioca, a Libra, onde teve uma experiência pouco usual. Os sócios da Libra apresentaram à Polícia Federal uma queixa-crime contra ele. Nela, Brasil é acusado de peculato, adulteração de documentos e formação de quadrilha. É comum que os liquidados se revoltem contra os liquidantes. Curiosa foi a reação de Brasil: ele também apresentou uma queixa-crime. Só que, na dele, os delitos são atribuídos a seus subordinados na Libra.

Na gestão de Brasil, Cesarini e Brandão finalmente assumiram os serviços de processamento de dados e cobrança do Morada. Não foram contratados diretamente pelo banco. Recorreram a uma triangulação. Seus serviços foram pagos pelos bancos que tinham negócios com a IMS Tecnologia e Serviços, sucessora da M7 Cobranças. De acordo com um funcionário recrutado para trabalhar na liquidação do Morada, a IMS recebeu R$ 25 milhões pelos serviços prestados. Cesarini não confirma o valor. A mesma IMS recebeu R$ 70 milhões pelos serviços prestados no Banco Cruzeiro do Sul. É um resultado espetacular, para uma empresa que, um ano e meio antes, tinha R$ 1.000 de capital. O BC informou que esse contrato já foi encerrado. Agora liquidante do Banco Rural, Brasil não atendeu os telefonemas para comentar o assunto nem respondeu aos e-mails com questões referentes ao Morada e ao Libra.

Integrantes da equipe que participou da liquidação do Morada relataram que as gestões do FGC para a contratação da M7 Cobranças e da Interbank foram acompanhadas por toda a cadeia de comando do Departamento de Liquidações do BC. Os nomes dos funcionários subalternos que não constam das correspondências foram preservados nesta reportagem. O mesmo benefício não se pôde dar aos diretores Sidnei Marques, Anthero Meirelles – ou ao presidente Alexandre Tombini. A carta enviada por Bueno a Marques e Meirelles, com a denúncia de Sidney anexada, exige explicações. O mesmo ocorre com as explicações dadas em carta por Sidney a seus chefes. Esses dois documentos provam que o BC mentiu ao afirmar, há um mês, que desconhecia irregularidades envolvendo a IMS. Por quê? Funcionários públicos como os do BC são obrigados a tomar providências quando informados de irregularidades. Nada fizeram. O BC diz que Tombini não sabia de nada e que não tinha razão funcional para fazê-lo. É crível que, numa diretoria de oito membros, dois tenham sido informados de irregularidades que poderiam constituir crime e, em vez de dar ciência ao chefe, tenham silenciado? Não há uma boa saída para a direção do Banco Central. 
 
Calendário do escândalo (Foto: ÉPOCA)


Os documentos citados na reportagem
(clique para ampliar)