domingo, 2 de setembro de 2012

…SEMPRE JUSTIFICAR



Walter Marquart
Sim! Quando erro, sempre fico devendo. “O que fizemos por nós mesmos morre conosco. O que fizermos pelos outros e pelo mundo permanece e é imortal” (Albert Pike)
Não repetirei palavras àqueles que até adivinham o meu pensamento; confesso que preciso ler mais, estudar mais, refletir mais ainda E ERRAR MENOS. Fui aconselhado a sossegar o pito, porque em um texto passado liguei o nome de JK ao sucateamento das Estradas de Ferro. Fui pesquisar e outra vez a razão cabe ao Professor.
Reconheço, para que volte a reinar a paz, que releva erros, que não atingi a verdade absoluta. Fui injusto com JK, mais pelo voluntarismo que condena e determina que a construção de Brasília seja o maior dos seus erros. E o erro está se tornando mais gigantesco ainda, sem rédeas, cheio de ratazanas e não apresenta comportamento de quem queira mudar. A esperança, que havia sumido, recai nos ombros do STF (Supremo Tribunal Federal), que deverá condenar a impunidade ao fogo eterno, colocar limites no egoísmo sindicalista e saber que o Brasil é habitado por 195 milhões de pessoas, que não devem adorar a besta (Brasília).
A história das Estradas de Ferro no Brasil, motivo do merecido pito, consagrou patriotas, tão capazes quanto visionários;/ engenheiros criteriosos e falta de visão do futuro, que na época não divisava o crescimento que ocorreu e proporcionou a transformação do país. Mas foram (EF) as condutoras do progresso, comprovado por todos. Houve muitos erros? Sim! E também acertos.
A opção rodoviária, o sindicalismo forte e egoísta, estava levando-as à falência latente e muito próxima. A salvação veio com a Lei 3115, que JK sancionou em 1957; Ela encampava todas as Estradas de Ferro (exceção das paulistas) e o seu primeiro ato, expostos nos estatutos, não continham medidas saneadoras: os sindicalistas continuaram a exercer sua “atividade” predileta: greves reivindicatórias, para repartir até o que não existia no cofre. Igualmente à Vale do Rio Doce, CSN, Telefônicas e outras, a Rede Ferroviária Nacional vivia com o chapéu na mão, e o tesouro suprindo os caprichos e desejos da “moçada”.
Acredito que pela desesperança de reerguer o sistema ferroviário, o poder central não destinou mais recursos para o comprovado “saco sem fundos”. O empreguismo político disfuncional, aliado ao sindicalismo, naquela altura não criava nada, a atividade de abrir o cofre e não encontrar nada desmotivou até os ferroviários patriotas e o sucateamento foi indutor do crescente desperdício. O sucateamento foi inevitável, assim como seria inevitável, em 1957, a decretação da falência das companhias. O fato de terem criado uma enorme companhia estatal, com os mesmos vícios praticados até então, sem planos para a atualização do setor, que ficou à míngua, foi eleita a autofagia como a solução final. Não sei, mas até hoje ainda devem estar pipocando processos que a medida tomada em 1957 provocou; o erário público ficou encarregado do passivo. Aliás, este o mote que o plano escondeu, mas os prejuízos foram muito além do programado. E não foi por falta de diretores e presidentes, que ficavam em casa, porque não tinham nada a fazer pela RFN. Condenada à morte.
O socialismo de repartir os prejuízos, não indicar culpados e ainda ufanar-se de que se iguala a deus, também irrigou os procedimentos que sucatearam as EF. Elas, ao entregar a administração para políticos e substituir os seus administradores profissionais pela dupla empreguismo/sindicalismo, não provocou a criação de mais nada; passaram a dividir as receitas antes mesmo de elas existirem; obrigou o governo a abrir o cofre para fechar a conta provocada pelos “patriotas” ferroviários, completamente desmotivados, ficaram apenas esperando o total sucateamento. Para desgraça do país, ele se apresentou sem lenço e sem documento, mas com milhares de processos que o passivo escondia.
Algumas perguntas o Aurélio não contempla: O que levou Eurico Gaspar Dutra a desapropriar a malha ferroviária? Qual a justificativa que embalou JK, com a Lei 3115 de 1957, reunindo todas as EF em uma só companhia (Rede Ferroviária Federal S/A)? Os problemas foram se agigantando, as prioridades afastaram a opção ferroviária e o que restou foram dívidas, principalmente trabalhistas, que a burra oficial, pela Lei 3115 assumiu. A verdade é que toda verba que o governo transferia para a Rede Ferroviária, era imediatamente dilapidada, não destinavam nem centavos para melhorias ou soluções.
Qual foi o norte que os europeus, japoneses e chineses assinalaram em suas bussolas ferroviárias? Terminada a 2ª guerra mundial, não esconderam com subterfúgios, as dificuldades que o atraso havia imposto ao setor. Sabiam que sem as ferrovias eles perderiam a competitividade e reduziriam a mobilidade urbana e a ligação entre as regiões. Buscaram, e conseguiram o “upgrade” que o setor necessitava: mais rapidez, mais comodidade e serviços “de 1º mundo”. No lugar de se enredarem com os fabricantes de caminhão, buscaram a solução mais apropriada. E sem perda de tempo com o blá-blá-blá. Parabéns! Os gestores que faltava na RFN, estavam mais ativos do que nunca, naqueles países.
Está rodando um email, exibindo a fundação, seus lideres e o vertiginoso progresso de Belo Horizonte. O Brasil era, de fato, um misto de entusiasmo e honestidade;/ lealdade e transparência;/ patriotismo e bravura. Foram os tempos em que o berço esplêndido tinha que ser produzido, requeria muitas camisas molhadas;/ lideres exemplares e patriotas destemidos, guiados pela sabedoria e dignidade foram os pilares da nação. O exemplo de Belo Horizonte foi o mesmo de muitas outras regiões do país. Menos o Maranhão do Sarney, aquele mesmo que a partir de 1985 procurou impor ao país, a política ilusória de que os recursos caem do céu, são alcançados sem esforço;/ os hábitos nos quais Satanás se compraz;/ os costumes que deveriam viciar os cidadãos de todas as regiões do país, porque tudo deve ser benesse do erário. Sem ordem ou limite.
Não é justo nomear um culpado pelo desmonte do sistema ferroviário, que timidamente está sendo reerguido. “Os acertos são disputados por muitos, mas os erros foram provocados pelo vizinho”. Temos ferrovias iniciadas no governo Sarney, parece que nasceram com deficiências e nunca encontram a trilha;/ tivemos no período militar o exemplo do improviso, com a propalada Ferrovia do Aço. Era de barro e não resistiu.
Quem errou? Se houve erros foi do vizinho. Eurico Gaspar Dutra, GV, JK, JQ, JG, Militares e Sarney não aceitam nenhuma culpa. Sindicalistas, leis trabalhistas, falta de verba, fora das prioridades, também não sentem nenhuma culpa. Faltou foram os abnegados fundadores de Belo Horizonte, Caxias do Sul, Joinville, Uberlândia, Ribeirão Preto, São Paulo, Campinas… Faltou lideres como foi Evangelista de Souza.
Faltou administração responsável e gestores honestos e capacitados.
(1) Foto: A Baronesa, primeira locomotiva a circular no Brasil.

AS RUAS E SEUS NOMES (1)



Luiz Berto
As ruas de Palmares têm uma geometria própria e indecifrável, cuja razão de ser escapa ao senso comum. Evidentemente, não estou me referindo às ruas determinadas pelos modernosos conjuntos residenciais construídos pelo governo, as malfadadas “cohabs”. É um curioso exercício tentar adivinhar o senso de ordem das autoridades que, em remotas eras, estabeleceram o traçado que até hoje permanece. Ou terá sido o próprio povo, com sua lógica peculiar, quem determinou este curioso plano urbanístico?
Existem quarteirões triangulares que afunilam as casas localizadas nos vértices, e ruas nas quais só cabe uma carroça Se dois carros se encontram, um deles terá que dar à ré para o outro passar. Existem praças com nome de rua e ruas que se confundem com a praça, não se sabendo onde acaba uma e começa a outra. Existem becos que foram batizados pela Prefeitura com o nome de avenida, e ruas que não passam de becos. E há pelo menos um beco sem saída: é a Rua do Araticum, que faz divisa com a Rua do Limão. A Rua do Limão faz fronteira com a Coréia, onde está localizada a zona boêmia. Esta, por sua vez, vai até as vizinhanças do Beco do Esconde-Negro, e este acaba exatamente na Rua do Ferro de Engomar.
A origem dos nomes de alguns logradouros está contida neles mesmo: Beco do Mijo (ou do Mictório), Beco da Tapa, Rua dos Cornos, Beco da Bosta, Matadouro, Rua do Capim, Rua da Linha (do trem) e Rua do Açude. Outros não são tão fáceis de adivinhar: Rua do Parafuso, Rua da Viração, Rua do Cu do Boi, Beco do Mulungu. Rua do Papel, Rua Nova, Rua do Sabão, Rua Teimosa e Rua do Galo.
Evidentemente, nem todas estas denominações são oficiais, reconhecidas pela Prefeitura. Ao contrário, uma parte delas foi estabelecida por um poder bem mais forte e competente, que é o poder do povo.
Alguns nomes são poéticos: Rua da Boa Vista, Rua da Aurora, Rua do Bom Destino, Rua da Palma, Rua da Soledade e Alto da Saúde.
Alguns locais têm os nomes de figuras que pertencem à história da cidade: Coronel Austriclínio, Tenente Everaldo, Coronel Izácio, Letácio Montenegro, Vigário Bastos, Bispo Dom Pereira Alves, Coronel Pedro Paranhos, Conselheiro João Alfredo, Vigário Freire, Viúva Luzia Pedrosa, além de uma Rua Humbert Minkewitz e outra John Kennedy. E tem mais, muito mais, ruas com nome de gente. Fiquemos nestas.
A Praça da Luz não é nenhum ponto de encontro de esclarecidos ou de filósofos: tem este nome, porque é lá que se localiza o escritório da companhia de eletricidade.
Já a Rua do Ancião não tem nenhum velho. Trata-se do seguinte: há muitos anos, o Prefeito começou a instalar um gigantesco gerador para dar eletricidade a Palmares, e marcou a data em que deveria ser inaugurado: 27 de setembro, Dia do Ancião. Logo, a Oposição, descrente do cumprimento do prazo, apelidou ironicamente o gerador de Ancião. Mas quem pegou o nome foi a rua onde está localizado o motor. Nome oficial, constando do catálogo da Prefeitura.
A Rua da Notícia é assim chamada porque lá funcionava um jornal semanal com este nome.
E tem também os locais batizados com datas: Rua 8 de Dezembro, Rua 1 de Maio, Rua 1 de Janeiro, Rua 15 de Novembro, Rua 6 de Janeiro, Rua 7 de Setembro, Rua 13 de Dezembro, Rua 13 de Maio e Rua 21 de Abril.
O bispo da cidade construiu uma casa no alto da ladeira do Matadouro, deixando o conforto do palácio no centro da cidade. Dos fundos desta casa, despenca um enorme vale, de linda vista e ladeiras íngremes, que foi sendo rapidamente povoado com as taperas que os menos afortunados construíam. O local cresceu, se encheu de gente, foi calçado pela Prefeitura e recebeu o nome mais apropriado, em conseqüência de sua localização: Buraco do Bispo. Nada mais correto para um bairro que se localiza nos fundos da Casa Episcopal.
E, para encerrar, só mais este: existe lá um beco que é um traço de união entre uma rua de família, no centro da cidade, e a zona do baixo meretrício. Os homens vêm de fininho, disfarçando, entram no beco e reaparecem já na zona. Daí o seu nome: Beco do Engole-Homem.
(1) Do livro “A Prisão de São Benedito e Outras Histórias”.
(2) Foto antiga de Palmeira

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)



BÍBLIA DO CAOS Em tempos de crise sociais os pobres perdem o pouco que têm, os competentes são afastados de seus cargos – e os inocentes vão para o paredão.

O legado de Prestes não será demolido



Paulo Solon
De nada vai adiantar essa nova tática contra a influência que exerce hoje, e exercerá cada vez mais, a atitude impoluta do grande patriota Luiz Carlos Prestes.
 Prestes é exemplo de integridade
Ao contrário, a simples preocupação de demolir o legado político e social de brasileiro íntegro como Prestes já mostra que estão preocupados com os rumos atuais, numa hora em que o capitalismo nada mais é que um barco à deriva. Sabem que a ascensão do socialismo é inevitável e já está acontecendo em toda parte.
O legado de Prestes não poderá ser demolido. Vai ficar cada vez mais evidente que Luiz Carlos Prestes serviu o povo de todo coração. Foi modesto e prudente, prevenindo-se contra toda presunção e precipitação, sem se apartar do interesse do povo e não dos interesses de um indivíduo ou de um pequeno grupo.
O espírito do camarada Prestes, seu total esquecimento de si próprio e sua devoção para os outros sempre serão lembrados por aqueles que cultivam profundo sentido das responsabilidades com relação ao trabalho, pelos socialistas e pelo povo. Todos aprenderão de Prestes esse perfeito espírito de abnegação. É assim que cada um poderá ser muito útil ao povo.
Não se preocupe, professora Anita Leocádia Prestes, pois quanto mais parecido com o povo quiserem reconstruir a imagem do grande Luiz Carlos Prestes, mais ele será conhecido como homem de nobres sentimentos, um homem íntegro, de alta moralidade, destituido de interesses vulgares, um homem cujo exemplo de vida será cada vez mais útil ao povo.

…E AGORA, JOSÉ? II



Ancião
O nosso redator chefe publicou, no post E agora José?, 29/08,  a excelente charge de Sponholz e comentou com o artigo de Carlos Newton, na Tribuna da internet, incluindo o link para o artigo integral. No artigo linkado existem vários comentários, a favor e contra. Eu queria ressaltar um dos comentários, fazendo aqui as vezes do juiz, olhando os dois lados. Afinal, em termos de direito, até o próprio batráquio merece defesa, que dirá o Toffoli.
O comentarista se chama João Araújo, deve ser advogado e, a despeito de escorregadelas no português, como “absorvida” por insuficiência de provas (muda o gênero e o significado), o ministro estava certol (?), Põe no lugar de Por, idoloatrado (?), Joaqum sem o i, a ausência de pausas em frases muito longas (advogados e escritores devem ser o bastião da última flor do Lácio, e tem obrigação de rever o que escreve), não deixa de ter razão no seu arrazoado (ui!):
“É engraçado quanta besteira eu tenho lido neste julgamento do mensalão. Pessoas que nada entendem de penal se arvoram a tecer comentários que chegam a ser risíveis como chega a ser este artigo de Carlos Newton. Vou tentar esclarecer uns pontos básicos. De início, gostaria de ressaltar que não gosto de Toffoli, mas o que ele disse não foi nada mais nada menos do que a concretização do princípio da presunção de inocência, de sorte que se a acusação nada provar o réu deve ser absorvida por insuficiência de provas. O próprio Código de Processo penal no seu artigo 366 manda absolver o réu se não houver provas suficientes. Assim sendo, o Ministro estava certol. Põe outro lado, os voto de outros ministros demonstraram que eles pouco entendem de direito penal e menos ainda de processo penal . O de Rosa Weber me pareceu extremamente fraco ( a formação dela é trabalhista ).
Mas para ficarmos no exemplo de Luis Fux ( que foi tão idoloatrado ), devo ressaltar que é ele processualista civil. Nada entende de penal e falou a maior besteira ( isto ficou consignado em fóruns de debate jurídico do qual eu participo ) que foi ressaltar que João Paulo Cunha havia mudado o teor do seu depoimento. A mudança de depoimento, a mentira e o silêncio são direitos do réu e NÃO PODEM SER CONSIDERADOS NO JULGAMENTO. Fazem parte do direito à defesa. O próprio Código de Processo Penal aduz que o silêncio não pode ser usado contra o réu. Um professor de direito penal em entrevista à GLOBO NEWS ressaltou este mesmo ponto. Achou absurda a postura de Fux. O voto de Rosa Maria Weber foi muito fraco, como eu disse. Ela vem do Tribunal Superior do Trabalho que não julga, excetuando casos raríssimos de habeas corpus, matéria penal. O próprio voto do relator teve as suas falhas ( embora este realmente tenha formação em direito penal vez que é egresso do Ministério Público Federal ) como na questão do réu Carlos ALberto Quaglia que acabou tendo todo o seu processo anulado. Assim sendo, outros Ministros deram escorregadelas bem complicadas. Outro ponto que achei o artigo tendencioso, além de muito fraco, foi que Lula, da mesma forma que escolheu Toffoli, ele também nomeou Peluso e Carlos Ayres ( dois excelentes juristas, mas a matéria faz questão de esquecer ). Também foi ele, Lula, que nomeou o próprio Joaqum Barbosa , mas a reportagem se omite em dizer. Gosto de reportagem neutra e não desta estirpe.  Abraços.”

Charge do Sponholz



METAMORFOSE



Magu 
Queridos leitores, contrariando regras do nosso blog, cujo editor não gosta de repetir matéria já publicadas mas, tendo em vista que nem todos consultam o “Estadão”, acredito que apreciarão ler o texto abaixo, parte de um artigo maior. O redator em tela é, reconhecidamente, um belo escritor, José Nêumanne (1 e foto). Mostro aqui só um pequeno trecho, que trata do molusco, remetendo logo após o leitor ao link do artigo completo, que merece ser lido.
“Legado do padim Ciço de Garanhuns em jogo”
… Pois, após o inquérito da PF, feito em sua gestão, de pareceres dos procuradores que ele nomeou e de votos do relator, por ele alçado ao STF, do revisor e mais quatro ministros também indicados por ele e Dilma, Lula só pode ser levado na galhofa por repetir, como o fez ao New York Times, que “o mensalão nunca existiu”. A conclusão contradiz sua aceitação de que culpados sejam punidos: culpa de quê, se nem existiu crime? Depois de se ter dito “traído” e “apunhalado pelas costas”, e de ter pedido desculpas ao povo brasileiro pelo que houve, mas jura há tempo que não houve, o ex-presidente apela para a própria incoerência de “metamorfose ambulante” para não ter de explicar a lambança que, sob sua bênção, os companheiros de partido fizeram no BB. E na Petrobrás, salva da desmoralização pela substituição, por Graça Forster, de Sérgio Gabrielli, mantido na presidência por Dilma a pedido de Lula. E sabe lá Deus onde mais a leviandade com que a companheirada trata o “patrimônio nacional” em proveito próprio terá ocorrido…(Leia na íntegraLegado do padim Ciço de Garanhuns).
(1) Jornalista, escritor e editorialista do “Jornal da Tarde”.

O INESPERADO OCORRE



Laurence Bittencourt (1)
É vivendo e aprendendo, mas não se surpreendendo. Recentemente foi divulgado com tradução um belo documentário sobre o grande psicanalista francês Jacques Lacan, médico de origem, psiquiatra, mas que como Freud abandona as explicações puramente médicas, biológicas, físicas, por não trazer respostas adequadas sobre aquilo que se chama de loucura humana. O documentário já está disponível na internet e se chama “Encontro com Lacan”.
Pois bem, neste documentário ficamos sabendo que o filósofo francês Jean Paul Sartre, criador da corrente teórica existencialista (“O existencialismo é um humanismo”) e que sempre teve uma relação problemática, digamos no mínimo de admiração e ódio para com a psicanálise (na verdade ele sempre teve dificuldades em aceitar o conceito de inconsciente e até diria, a própria psicanálise), chegando a escrever um livro que se torno filme “Freud além da alma”, sofria de alucinações e que procurou sim Lacan para iniciar com ele uma análise pessoal. Algum problema em relação a essa atitude? Nenhuma. Apenas acentuar o fato de que um repúdio muitas vezes (ou quase sempre) trata-se de uma defesa, ou como diria Freud, uma negativa é quase sempre um sim. Segundo Freud o inconsciente desconhece “não”.
Interessante é que o próprio Freud viveu algo parecido com esse fato que ocorreu com Lacan e Sartre, quando de sua criação da psicanálise ainda no século XIX (o livro de Freud que marca a entrada do século XX foi “A interpretação dos sonhos” que o próprio psicanalista, vaidoso, e que já tinha concluído o livro em fins de 1899, segurou a publicação para inaugurar o novo século com a sua talvez mais genial descoberta, exposta no livro, ou seja, de que os sonhos tinham e carregam um sentido) acusado que foi no inicio de suas descobertas de ser um charlatão, fantasioso, de criar “contos da carochinha” e de pansexualismo.
Pois bem, o curioso é que alguns daqueles “respeitáveis” senhores que o acusaram o procuraram depois para se dizer “vitimas” de uma obsessão, de uma fobia, ou mesmo de uma histeria, chegando também a iniciar um processo de análise pessoal com o mestre.
Mas voltando ao documentário sobre Lacan, vale a pena assistir mesmo para aqueles que tem interesse puramente intelectual. Acompanhamos no documentário depoimentos de pacientes do psicanalista francês, sua forma de analisar, seu método (Lacan inova em método e do ponto de vista teórico, ainda que se dissesse um seguidor de Freud, é famosa sua frase já no final da vida em um evento que participou na Colômbia ao dizer para a plateia sequiosa por ouvi-lo e compreender seus ensinamentos: “vocês podem ser lacanianos, se quiserem, eu sou freudiano”), enfim sua teoria inovadora, sua forma de ser e estar no mundo. Vale a pena, sem dúvida.
O documentário teve o acompanhamento de uma de suas filhas Judith Miller (Lacan deu o nome de Judith – nome de origem judaica – como uma forma de repúdio e resistência ao que os nazistas fizeram aos judeus na segunda grande guerra) e termina com uma fala de Jacques Allan Miller casado com Judith e hoje detentor do espólio intelectual de Lacan. Grande parte das traduções dos famosos seminários de Lacan foram feitas por exatamente por Jacques Allan Miller, que também é psicanalista. Vale a pena.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br

O TOLO HADDAD SE “ASTRASPALHA”



Giulio Sanmartini
Da união entre os vírus residentes em Lula com aqueles de Maluf, resultou outro híbrido, muito mais nocivo a quem o contrai.
O primeiro a ser afetado, por essa nova maleita, foi o candidato à prefeitura paulistana Fernando Haddad.
Logo, pela desfaçatez, ficou semelhante a um rei-de-paus de baralho velho e passou a deitar besteiras para enganar de forma primária aqueles que o ouvem.
Em entrevista a uma equipe de repórteres de “O Globo” (31/8) Haddad foi instado a comentar o julgamento do “mensalão”, bem que tentou sair pela tangente, mas os repórteres foram diretos, dessa forma, evitando usar a palavra proibida  por ordem se seu inventor Lula, usou o eufemismo “ação penal 470”.  Haddad, como um farsante, considera inverossímil que tenha havido suborno a parlamentares para obter maioria na Câmara.
O senhor acha que o mensalão existiu ou não?
O Supremo Tribunal Federal está dando a última palavra sobre isso.
O Supremo diz que existiu…
É, mas ele não está dizendo que o propósito foi para a constituição de maioria, isso eu não percebi da decisão. E, conhecendo o tamanho do Congresso, acho muito inverossímil que tenha sido para isso. (Leia a integra da entrevista aqui.)
(1) Foto: Fernando Haddad tal qual um rei-de-paus de baralho velho

O APETITE DO EX-MINISTRO


Ralph J. Hofmann
Correm rumores de que o Palácio Piratiní está providenciando o treinamento da Manobra de Heimmlich (a manobra em que obstruções da traquéia causadas por pedaços excessivamente grandes de comida são removidas por uma forte e rápida  pressão sobre o diafragma que faz com que a obstrução seja ejetada).
Aparentemente após desenvolver mil e um esquemas para denegrir o governo de Yeda Crusius, após denunciar os empréstimos de Yeda junto ao BIRD para escapar às altas taxas de juros acabam de descobrir que  Tarso Genro não conseguia mastigar o que havia abocanhado. Agora está indo de chapéu na mão ao BIRD pedir um empréstimo. Aliás, um a um está sendo obrigado a recorrer a soluções que haviam sido usadas no governo anterior para compensar seus gastos perdulários e ações baseadas em teorias políticas e não em fatos sólidos.
Na ilustração, a imagem do bocado que ficou atravessado na traquéia de Tarso Genro.

CONFIANÇA DO COMPRADOR DE IMÓVEL CRESCE 5,6% EM JULHO


O aumento do índice é resultado da melhora na percepção nos próximos 6 meses para o três quesitos avaliados: situação econômica brasileira, situação financeira da família e intenção de compra de imóvel.




30 de agosto de 2012 - O consumidor  de imóvel paulista está mais otimista. Esse foi o resultado
do Índice de Confiança do Comprador de Imóvel (ICCI), desenvolvido mensalmente pela área
de Inteligência de Mercado da Lopes, para analisar as expectativas dos interessados em adquirir
 um imóvel. A pesquisa encerrada em julho pela Lopes, maior empresa de intermediação
consultoria de lançamentos imobiliários, aponta que a confiança do consumidor subiu 5,6%,
comparada ao mês anterior.
O aumento do índice é resultado da melhora na percepção nos próximos 6 meses para o três 
quesitos avaliados: situação econômica brasileira, situação financeira da família e intenção de 
compra de imóvel. Quando analisada por segmentos, percebe-se um aumento significativo na 
confiança dos consumidores que buscam pagar até R$ 250 mil pelo imóvel: em relação a junho, 
houve uma alavancagem de 12,4%.
Com 581 entrevistas, o estudo também avaliou a atual condição do comprador e suas
 perspectivas para o segundo semestre. O Índice da Situação Atual (ISA) cresceu 3,2%,
 enquanto o Índice de Expectativas apresentou um aumento de 7,6% em relação ao mês anterior.
“Com o aumento da confiança na economia brasileira e situação financeira da família, 
os paulistas estão mais otimistas e acreditam cada vez mais na possibilidade da aquisição
 da casa própria. Em geral, 56% dos entrevistados essa será a primeira compra de imóvel. 
E para interessados em imóveis até R$ 250 mil, esta proporção aumenta para 81%.”, afirma
 Cristiane Crisci, diretora da área de Inteligência de Mercado da Lopes.

(Redação - www.ultimoinstante.com.br) 

Delimitando espaços - Dicas de decoração para ambientes integrados


Postado por: Rafael Bacellar

Com ambientes cada vez menores, a integração de ambientes vem se tornando mais comum em espaços urbanos limitados
O uso de móveis planejados é ótima opção para deixar claro onde “começa” uma sala e termina a outra. Além disso, aposte em móveis de cores que interajam entre si. O ideal é que eles tenham o mesmo estilo e padrão.
Acessórios
Abuse dos acessórios, como quadros, cortinas, luminárias, tapetes, almofadas, entre outros, que personalizam o ambiente. Os espelhos também são uma ótima pedida em espaços conjugados, pois garantem sensação de amplitude.
Pintura
Pintar as paredes de cores diferentes serve para distinguir um ambiente do outro. Investir em texturas e papel de parede também é uma forma barata e charmosa de decorar espaços integrados.
Não exagere
Já dizia a mensagem, menos é mais, principalmente em casas e apartamentos pequenos. Com ambientes integrados são grandes as chances de poluir visualmente os cômodos, prefira investir em uma decoração minimalista com tons neutros.


Criatividade
E por fim, e não menos importante, seja criativo e procure fazer espaços que tenham diversas funções, assim como móveis com múltiplas utilidades. Desta forma, o ambiente de pouco espaço se torna eficiente e confortável.

Irã anuncia manobras para proteger usinas; Israel reage


Diante da possibilidade de ataque israelense, país reforça materiais de guerra e se preocupa com suas instalações nucleares. Netanyahu cobra ação de aliados

O pôster de Ali Khamanei, Líder Supremo do Irã, próximo às centrífugas de energia nuclear
O pôster de Ali Khamanei, Líder Supremo do Irã, próximo às centrífugas de energia nuclear (IRIB Iranian TV/Reuters)
O governo iraniano anunciou neste domingo que prepara para as próximas semanas uma série de manobras antiaéreas em larga escala para proteger as instalações nucleares do país. Diante da possibilidade de um ataque israelense contra as usinas iranianas, o governo dos aiatolás pretende testar as forças do país diante de “cenários inesperados”. Também neste domingo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu urgência à comunidade internacional na definição de um limite claro para o programa nuclear iraniano – e que deixasse claro ao presidente Mahmoud Ahmadinejad que o Ocidente está determinado a impedir o avanço do Irã na questão nuclear.
"Todos os sistemas de defesa antiaérea da Guarda e do Exército serão utilizados neste exercício", afirmou o comandante das forças antiaéreas da Guarda Revolucionária iraniana, general Farzad Esmaili. Os exercícios devem ter início em 21 de setembro e se estender até 21 de outubro, segundo Esmaili.
O general explicou que a prioridade da defesa antiaérea da Guarda Revolucionária é proteger as instalações nucleares. "Grande parte de nossos meios está mobilizada ao redor destas instalações", disse.
Israel, Estados Unidos e as potências europeias temem que o programa nuclear iraniano tenha como objetivo a produção da bomba atômica. As declarações de Netanyahu neste domingo deixam clara a crescente impaciência do país com seus aliados – sobretudo os Estados Unidos -, que vem pressionando o governo israelense a insistir na diplomacia e na adoção de sanções econômicas para deter o avanço nuclear do Irã.
O Irã alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos, contra todas as evidências. Estima-se que a bomba iraniana deve ficar pronta em um ano. Entende-se, portanto, que os israelenses considerem recorrer a todos os meios possíveis para impedir esse desastre para a segurança mundial.
A agência oficial iraniana Mehr informou neste domingo que o país reforçou as capacidades de radares, baterias de mísseis e meios de guerra eletrônica ao longo da fronteira noroeste, limite com Turquia, Armênia e Azerbaijão. "Os equipamentos foram instalados em mais de 300 pontos", afirmou o general Rasul Rezvani-Kia, comandante da defesa antiaérea na região.
(Com agência France-Presse)

O príncipe que virou espião


A história do nobre austríaco da família de Maria Antonieta que passou para os aliados informações sobre os nazistas e a antiga URSS na esperança de ser rei da Ucrânia

Ivan Claudio
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Na cidade de Lviv, na Ucrânia, considerada o enclave mais patriótico do país, existe uma praça chamada Vasyl Vyshyvanyi. O lugar, no entanto, não exibe qualquer estátua que retrate esse cidadão. Reserva espaço apenas a balanços destinados à diversão das crianças. Os jovens ucranianos talvez não saibam, mas esse Vyshyvanyi foi um herói nacional: durante quatro décadas lutou na surdina pela libertação de seu povo do jugo polonês e soviético e, em plena era das revoluções, queria implantar a monarquia nessa nação do Leste Europeu. Embora tenha adotado esse nome eslavo, Vyshyvanyi era um Habsburgo, ou seja, um aristocrata descendente da Casa da Áustria, uma das dinastias mais poderosas e influentes da Europa no período entre os séculos XII e XX, que esteve à frente de dois impérios, o Sacro Império Romano Germânico e o Império Austro-Húngaro. Ele chamava-se na verdade Wilhelm Habsburgo e era um arquiduque, ou seja, um príncipe na hierarquia austríaca. Morreu em 1948, aos 53 anos, pobre e tuberculoso numa prisão de Kiev. A sua acidentada trajetória, da vida de privilégios às privações da guerra, quando se tornou um espião a serviço das potências aliadas, está sendo resgatada em uma biografia fascinante, “O Príncipe Vermelho” (Record), do historiador da Universidade de Yale Timothy Snyder, cuja especialidade são as confusas transformações sociais da chamada Europa Oriental.
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REBELDE 
Habsburgo tinha uma tatuagem e usava 
roupas bordadas sob o uniforme militar
O temperamento de Habsburgo lembra o de outro nobre cuja atuação política sempre foi usada para ilustrar a decadência da aristocracia no final do século XIX: Ludwig II da Baviera, conhecido como “o rei louco”. A diferença é que Ludwig foi “expropriado” de um reino perdulário tido como um obstáculo à unificação da Alemanha. Habsburgo, ao contrário, queria ser o monarca de um trono inexistente e tentava justamente restaurar a antiga ordem numa época em que a própria ideia de famílias imperiais já não fazia mais sentido. Rebelde como o monarca alemão, Habsburgo já dava ares de independência quando, na juventude, mandou fazer uma tatuagem de âncora no braço, um adereço não muito comum em sua classe. Esse ímpeto o levou a assinar, na sequência, uma espécie de “carta de infortúnios”. A mando do patriarca Stefan, sua família (que no limiar do século XX ainda dominava 20 territórios na Europa) decidiu optar pela origem polonesa diante dos movimentos nacionalistas que pipocavam na época. Habsburgo, no entanto, optou pela via “gauche”: preferiu se tornar ucraniano.

O envolvimento do arquiduque com a causa ucraniana o levou a radicalismos. Além de adotar o idioma do país em detrimento do italiano, do francês, do alemão, do inglês e do polonês que falava desde criança (foi quando verteu o seu nome para Vasyl Vyshyvanyi), ele passou a usar roupas folclóricas dos camponeses com vistosos bordados de flores e grafismos. Chegou até a escrever um livro de poesias voltado para a cultura de sua pátria de adoção. Os novos conterrâneos o retribuíam com humor, apelidando-o de Vasyl, o Bordado. A alegria, contudo, durou pouco.
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Nos anos 1930, com a ocupação e posterior divisão da Ucrânia em duas áreas de influência polonesa e soviética, ele foi para a Espanha. Na França, mergulhou na louca atmosfera boêmia, se envolvendo com artistas como a cantora e dança­rina Mistinguett, célebre na época. Podiam ser vistos junto com outro príncipe, Friedrich Wilhelm da Prússia, que, como ele, tinha berço famoso, mas uma fortuna indo pelos ralos.
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Foi um período escandaloso. Afora as aventuras homossexuais (a polícia parisiense registrou a sua presença nas chamadas “maison spéciales”, eufemismo para bordéis gays), Habsburgo foi quase preso por suspeita de participar, junto com uma amante, de um golpe em um milionário do ramo de bebidas, ligado à família Rothschild. Aos policiais, a mulher afirmou que estava “arrecadando dinheiro para a restauração dos Habsburgo”. A partir daí, a existência de Habsburgo lembra a de Zelig. Baseado em Viena, ele se aproxima dos nazistas na esperança de que eles libertem a Ucrânia, mas logo percebe as reais intenções do Reich. Passa a fornecer informações para a inteligência inglesa. Usando dos mesmos contatos da resistência camponesa, abastece o governo francês de dados sigilosos sobre a União Soviética. À espreita numa cidade dividida em quatro administrações, Habsburgo é surpreendido por policiais russos com braçadeiras vermelhas. É colocado em um carro. No dia seguinte estava sendo interrogado. Não resistiu aos 357 dias no cativeiro e às intermináveis sessões de tortura. Antes de embarcar, teria perguntado aos soldados: começou a terceira guerra?  

Leia um trecho do primeiro capítulo do livro:
O Sonho do Imperador
Nenhuma dinastia europeia governara por tanto tempo
quanto os Habsburgos, e nenhum Habsburgo governara por
tanto tempo quanto o imperador Fra ncisco José. No segundo dia de
dezembro de 1908 a mais alta sociedade do império reuniu-se na sua
Casa de Ópera da Corte em Viena para celebrar o 60º jubileu do seu
governo. Os nobres e os príncipes, os o/ciais e os funcionários públicos,
os bispos e os políticos vieram celebrar a durabilidade de um homem
que reinava sobre eles pela graça de Deus. O local de encontro, uma
casa de música, também era um templo da eternidade. Como os outros
grandes edifícios construídos em Viena durante o reinado de Francisco
José, a Casa de Ópera da Corte tinha o estilo histórico inspirado no
Renascimento, ao mesmo tempo que dava para as mais belas avenidas da
Europa moderna. Ela era uma das pedras preciosas da Ringstrasse — a
avenida circular construída durante o reinado de Francisco José para
delimitar o centro da cidade. Na época, tal como agora, os humildes e
os nobres podiam pegar o bonde e passear em volta (da Ringstrasse) pelo
tempo que quisessem, com uma passagem para a eternidade nas mãos.

A celebração do aniversário de reinado do imperador começara na
noite anterior. Os vienenses em volta da Ringstrasse e de toda a cidade
haviam acendido uma única vela em suas janelas, lançando uma pequena
luz dourada através da escuridão da noite. Esse costume tivera início em
Viena 60 anos antes — quando Francisco José foi elevado aos tronos dos
Habsburgos em meio à revolução e à guerra — e se espalhara por todo o
império durante o seu longo reinado. Não apenas em Viena, mas em Praga,
Cracóvia, Lviv, Trieste, Salzburg, Innsbruck, Ljubljana, Maribor, Brno,
Chenivtsi, Budapeste, Sarajevo e incontáveis outras cidades, municípios e
vilas através da Europa Central e Oriental, súditos leais aos Habsburgos
demonstravam seu respeito e devoção. Depois de seis décadas, Francisco
José era o único governante que a maioria dos seus milhões de súditos
— alemães, poloneses, ucranianos, judeus, tchecos, croatas, eslovenos,
eslovacos, húngaros, romenos — havia conhecido. Ainda assim, em Viena,
o brilho dourado não trazia nostalgia. No centro da cidade as milhares
de velas tremeluzentes eram ofuscadas por milhões de lâmpadas elétricas.
Todos os grandes prédios da Ringstrasse eram iluminados por milhares de
lâmpadas. Praças e cruzamentos eram decorados por estrelas elétricas gi-
gantes. O próprio palácio do imperador, o Hofburg, era coberto por luzes.
Um milhão de pessoas saiu para as ruas a /m de assistir ao espetáculo.

Na manhã de 2 de dezembro, no Hofburg — o palácio imperial na
Ringstrasse —, o imperador Francisco José recebeu a homenagem dos
arquiduques e arquiduquesas: príncipes e princesas cujo sangue, tal como
o dele, era o dos imperadores Habsburgos do passado. Embora a maioria
deles tivesse palácios em Viena, eles vinham do outro lado do império,
de seus vários refúgios da vida na corte, ou de suas várias mansões
suntuososas. O arquiduque Stefan, por exemplo, tinha dois palácios no
sul imperial às margens do mar Adriático e dois castelos no norte em
um vale da Galícia. Stefan e sua esposa, Maria Teresa, trouxeram seus
seis /lhos ao Hofburg naquela manhã para prestarem sua homenagem
ao imperador. O /lho mais novo, Willy, tinha 13 anos, idade su/cien-
te — de acordo com o cerimonial da corte — para participar. Willy,
criado às margens do mar azul, viu-se cercado por uma demonstração
magní/ca do poder e da longevidade de sua família. Era uma das raras
ocasiões em que ele via seu pai, Stefan, usando um traje cerimonial
completo. Em volta do pescoço ele usava o colar da Ordem do Tosão
de Ouro — a insígnia daquela que era a mais exaltada das sociedades
cavalheirescas. Willy, aparentemente, manteve uma certa distância da
opulência. Embora tenha aproveitado a oportunidade para examinar
o tesouro imperial — onde os tronos e as joias eram guardados —, ele
lembrar-se-ia do mestre de cerimônias como um galo dourado.

À noite, na Casa de Ópera da Corte, o imperador e o arquiduque en-
contraram-se novamente, desta vez perante uma audiência. Às 18h os
outros convidados haviam chegado e tomado seus lugares. Pouco antes
das 19h, os arquiduques e arquiduquesas — incluindo Stefan, Maria
Teresa e seus /lhos — esperavam pelo sinal. No momento adequado,
os arquiduques e arquiduquesas /zeram sua grande entrada no salão
e caminharam juntos até seus camarotes. Stefan, Willy e o restante da
família ocuparam um camarote do lado esquerdo, e permaneceram de
pé. Só então apareceu o imperador Francisco José — um homem de 78
anos de idade e seis décadas de poder, curvado, mas forte, usando cos-
teletas imponentes e com uma expressão impenetrável. Ele agradeceu os
aplausos da galeria. Ele /cou de pé por um momento. Francisco José era
conhecido por esse hábito: permanecia de pé em todos os compromissos
a /m de fazê-los durar o mínimo possível. Ele também era conhecido
pela sua resistência: sobrevivera às mortes violentas de seu irmão, sua
esposa e seu /lho único. Ele sobrevivera às pessoas, às gerações, e parecia
capaz de sobreviver até mesmo ao próprio tempo. Mas naquele momento,
precisamente às 19h, ele sentou-se, e todos os outros puderam sentar
também, e outra apresentação podia começar.

Combate à desertificação não é prioridade de governos, diz especialista


Meio ambiente

02.09.2012 11:33

Thais Leitão

Repórter da Agência Brasil
Vista aérea de região em processo de desertificação no Haití: 2 bilhões de pessoas vivem em áreas deste tipo, diz Antônio Rocha Magalhães, da UNCCD. Foto: Yi-Chung Huang/ Flickr Creative Commons
Embora o combate à desertificação seja fundamental à implementação de uma agenda consistente para o desenvolvimento sustentável, o tema ainda não é visto como prioridade pelos governos mundialmente. A avaliação é do presidente do Comitê Científico da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD), Antônio Rocha Magalhães.
Segundo ele, os impactos da seca são cada vez mais severos e a interferência humana, promovendo desmatamento e erosão, por exemplo, contribui para a piora do cenário. Magalhães argumenta que a prevenção e o combate à desertificação estão diretamente relacionados aos esforços para erradicação da pobreza.
“Cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas secas, sujeitas à desertificação, que representam 40% do território mundial. Essas áreas concentram 60% da pobreza mundial, por isso, quando se fala em erradicação de pobreza tem que se olhar em particular para essas regiões. Por serem mais pobres, com recursos naturais menos promissores e atividades agrícolas mais arriscadas por causa do déficit hídrico, elas não conseguem atrair apoio político forte”, afirmou.
Antônio Rocha Magalhães, que também é assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, alertou que os recursos investidos para prevenir a desertificação são “muito menores” do que os prejuízos trazidos pelo problema.
Ele lembrou que, no ano que vem, o Brasil vai sediar a 2ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD). Durante o encontro, que faz parte do calendário oficial das Nações Unidas, serão avaliados os impactos econômicos do combate à desertificação e da implementação de políticas de mitigação de efeitos de seca.
“O que já se sabe de antemão é que o custo de não se fazer nada é muito maior, porque os impactos futuros esperados, diante do aumento da pressão sobre essas regiões, devem impor prejuízos econômicos, sociais e ambientais muito maiores do que o que seria necessário para implementar políticas de prevenção”, enfatizou.
Entre as principais consequências da degradação dessas terras estão as perdas para o setor agrícola, com o comprometimento da produção de alimentos; a extinção de espécies nativas; o agravamento da desnutrição da população local; baixo nível educacional e a concentração de renda.
O presidente do Comitê Científico da UNCCD, destacou que no Brasil o processo de desertificação atinge várias regiões principalmente do Nordeste. Os chamados núcleos de desertificação, onde a situação de degradação é mais crítica, são: Seridó, no Rio Grande do Norte, na divisa com a Paraíba; Irauçuba, no Ceará; Gilbués, no Piauí; e Cabrobó, em Pernambuco.
Magalhães ressaltou, no entanto, que o quadro mais grave mundialmente é observado na África. No continente, “a situação de pobreza é maior e é agravada pelas diferenças políticas e étnicas”, o que dificulta a implementação de uma agenda de desenvolvimento sustentável para a região.
Além disso, as projeções populacionais preveem manutenção do crescimento, enquanto no Brasil o ritmo [de crescimento populacional] já diminui e já se vislumbra uma estabilidade da população. Na África, ele continua explodindo, com taxas de até 4% ao ano em alguns países”, ressaltou.
Magalhães enfatizou que esse quadro “justifica os esforços do Brasil em estabelecer uma cooperação com a África”.
No dia 20 de junho deste ano, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, foi firmado um acordo tripartite para o combate à desertificação da África, formado por Brasil, França e um bloco de países do continente. Na oportunidade, foi lançado edital de seleção de projetos de pesquisa sobre o tema no valor de 1 milhão de euros (cerca de R$ 2,6 milhões).